Capítulo 3 – Ser ou não ser? Eis a questão. Ter ou não ter? Eis a solução!
Conheço pessoas que são tão
desejosas de ter uma experiência pessoal e íntima com Deus e que, porém, não
conseguem mesmo se esforçando. Iniciam projetos para a Sua obra e logo
desanimam. Propõem-se em alianças, mas não se reavivam. Desesperam-se tentando
deixar de lado algumas práticas pecaminosas, mas não são perseverantes. Chegam
a pensar que Deus não lhes chamou, nem tampouco os escolheu para a vocação no
evangelho. Por isso vivem de crises existenciais e não conseguem ser constantes
em nada (Ef 4.14). São chorosas, deprimidas, murmuradoras, amoldadas ao modo de
vida, ou ao contexto a que estão inseridas. Assistir a tudo isso, para mim, é
muito doloroso. Mas posso afirmar que todas essas situações têm, normalmente,
uma causa comum que, diagnosticada, pode ser tratada e curada. Que tal buscarmos
compreendê-la?
Entendendo a
relação que há entre SER e TER, na
vida espiritual e natural.
Parafraseando Raul Seixas podemos
afirmar: O querer é o que move o homem. Se não há desejo, não há motivação; se
não há vontade, não ação; se não há ação, não há realização. O problema é que o
desejo humano se inclina naturalmente para o que é contrário à vontade de Deus
(Rm 8.6,7). Assim propôs o profeta Jeremias:
“Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”.
(Jr 17.9) [Ênfase adicionada]
Quando as Escrituras falam do
coração, estão tratando dos desejos. O Mestre Jesus, no sermão da montanha nos
advertiu:
“Porque onde
estiver o vosso tesouro, aí
estará também o vosso coração.” (Mt 6.21) [Ênfase adicionada]
No coração é que se estabelecem os
nossos maiores desejos; nossas mais desenfreadas paixões. Tudo aquilo que
elevamos ao nosso coração alcança um patamar de importância vital, que tenta se
expressar como alegria para nossa alma. O homem natural vive firmado naquilo
que é palpável; em tudo que reflete alguma experiência sensorial. Já o homem
espiritual se firma no que não é visível (2Co 4.17; Rm 1.17; Hb 11.1). Muitos
creem que o homem natural vive num constante dualismo entre ser e ter, de modo
que isso não caberia ao homem espiritual, visto que ele se importaria muito
mais com o ser. Contudo, por incrível que possa parecer, todos nós, homens
espiritual ou natural, somos inteiramente dependentes daquilo que nós temos. Essa
é uma verdade bíblica pouco compreendida.
Por isso, hoje eu queria te convidar
a raciocinar comigo acerca dessa verdade, que foi anunciada pelo próprio Mestre
Jesus. O nosso coração firma residência, justamente, onde se encontra o nosso
tesouro – onde um estiver, aí, estará o outro. Podemos concordar facilmente que
o tesouro não constitui a nossa essência; ou seja: o tesouro não é o que somos,
mas é algo que temos de valor. Já o
coração reflete a essência de nosso ser; ele é o que somos. Contudo, se existe um princípio incontestável que afirma que
o meu coração está onde o meu tesouro está, posso afirmar que o que sou é, irremediavelmente, dependente do
que tenho como valioso. O ser e o ter vivem uma fusão tão íntima que se tornam indissociáveis. Poder-se-ia
afirmar que o ter não está acima do ser, nem o ser acima do ter. Nós,
efetivamente, somos de acordo com o
que temos de maior valor. Porém, o
Espírito nos dá uma grande lição por meio de Paulo:
Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro,
para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. (2Co 4.7) [Ênfase
adicionada]
Conquanto possa se conceber que o ser, normalmente, não está acima do ter e nem o ter acima do ser, o versículo
acima aponta para a grande diferença que há entre o homem natural e o homem
espiritual. Entendemos que há uma fusão entre o ser e o ter, de sorte os
dois são indissociáveis. Porém, no homem espiritual, o Ter se revela extremamente superior ao ser.
Observe a forma que Paulo escreve: “Temos, porém, este tesouro”. O tesouro,
que é a resplandecente Luz de Cristo (v. 6), é magnífica e infinitamente
superior ao que somos: “vasos de
barro”. Há efetivamente uma fusão entre o ser
e o Ter. O ser, porém, não está, tão somente, alocado junto ao Ter: o está contendo. O Ter foi depositado dentro do ser. Tudo isso para que não haja em nós
qualquer tipo de exaltação, uma vez que a excelência do poder que é inerente ao
Tesouro que temos, não é nossa, mas de Deus. Em suma, a composição do homem
espiritual pode se expressar em TER-ser-NELE
e DELE.
Em toda essa compreensão se revela
uma grande chave para solucionar o problema da essência de nossa carência
interior. Alguns, após lerem o capítulo 2 do presente artigo, poderão exclamar:
“Eu bem que queria me distanciar de algumas amizades que não têm me edificado,
mas não consigo; estou preso a elas; elas me são muito valiosas!”; ou mesmo:
“Eu bem que queria me libertar de algumas coisas, mas não consigo!”. O fato é
que você se tornou dependente de tudo isso que você tem por valioso; o teu ser é o recipiente disto. Mas a grande
questão é: Você se sente realizado com tudo isso que tem valorizado? Se o seu
coração está na ambição do sucesso e do dinheiro, uma vez que você alcance tudo
isso, há realização? Há preenchimento interior? É claro que não! Todas essas
coisas que tenhamos como valiosas, ainda que alcancem a estatura do nosso ser,
não nos podem preencher, pois nosso espaço interior é muito maior do que o que somos ainda que somados ao que venhamos
a ter fora de Cristo.
Certa vez a banda Fruto Sagrado
cantou: “O vazio no peito é do tamanho de Deus”. Essa é a grande realidade!
Isso porque Deus, sendo infinitamente maior do que somos, é a proporção exata
do que, efetivamente, desejamos Ter,
ainda que não tenhamos consciência disso. Isso se poderia, facilmente, coadunar
com o princípio ontológico da economia: “As necessidades são infinitas e os produtos escassos”. Qualquer possessão
que esteja fora de Deus não suprirá a lacuna de nossos corações. Contudo, há um
ponto particular onde o princípio básico econômico falha: Sendo Deus infinito
em todos os seus atributos, não há que se falar em escassez para aqueles que O
constituem como Sua maior possessão; Seu maior desejo. Assim, somente um Deus infinito em sua magnitude pode atender
às nossas necessidades infinitas!
Em síntese, temos uma necessidade
natural de nos relacionar, de ter. Isso é um fato incontestável. Como dito
anteriormente, há um desejo ardente, uma carência extraordinária que nos
motiva, nos envolve e nos compele a buscarmos preencher o vão que há em nosso
interior. Essa é a famigerada “procura da felicidade”. E nesse afã é que nos
atolamos, mais e mais, em prazeres que atenuam, mas não solucionam o problema.
Porém, como eu posso alcançar a plena alegria? A resposta você conhece, mas
deve vivê-la!
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