Atos
proféticos: Comando a Deus com uma invenção humana?
A febre da apostasia alcança proporções cada
vez maiores. Afastar-se da fé bíblica já não significa tornar-se um ateu
existencialista, que decreta, por meio do niilismo, a morte de Deus. Distanciar-se
da fé bíblica, atualmente, significa muito mais abraçar-se a uma
espiritualidade que roga para si (ou pelo menos pretende) uma identidade cristã,
muitas das vezes até evangélica. É o evangelho místico, idolátrico e revestido
de fábulas, que alcança territórios cada vez mais amplos dentro das igrejas. Não
obstante, recebi a notícia, por meio do amigo Renan, da existência de um livro
que, segundo o autor, se revela uma apologia neopentecostalista, buscando
defender um de seus maiores ritos idolátricos, amplamente conhecidos como “atos
proféticos”.
Já abordei um pouco acerca deste tema em
análise a uma das “liturgias” mais divulgadas por quase a totalidade das
igrejas que são adeptas ao “modelo celular”. Na série “Análise do Encontro: é
tremendo!”, mais especificamente na parte “12b” intitulada “Mais aberrações: A
unção da água”, trato superficialmente acerca do conteúdo de idolatria e da
desestruturação do conceito bíblico de Fé que tal “ato profético” revela.
Entretanto, na presente oportunidade, gostaria de tecer algumas considerações
acerca da defesa que o “paipóstolo” Renê Terra Nova, em mais uma de suas
aberrações e distorções doutrinárias, apresenta por meio do livro: “Atos
proféticos: Comando de Deus ou invenção humana?”.
É evidente que não empreenderei esforços para
comentar todo o livro, uma vez que vários dos textos que já publiquei, revelam
uma visão mais ampla acerca do assunto; devendo, pois, o leitor, antes de
desferir qualquer ataque a minha pessoa, conhecer, a fundo, as ideias
apresentadas nesse blog, julgando se estão, ou não, em conformidade com a
inerrante Palavra de Deus (Jo 7.24). Assim, buscaremos discorrer acerca do que
é, efetivamente, o “ato profético”; se a Palavra retrata algum “ato profético”;
se os “atos proféticos” adotados pelas igrejas neopentecostais têm respaldo
bíblico; se há aplicabilidade neotestamentária dos “atos proféticos”; eventuais
problemas na adoção dessa nova “doutrina”, pela igreja.
Apresentada essa breve introdução. Passemos a
uma rápida análise do tema “atos proféticos”, valendo-nos do mais confiável
livro de consulta a respostas da humanidade: a Bíblia Sagrada.
CONCEITO
NEOPENTECOSTALISTA DOS ATOS PROFÉTICOS
Segundo o “paipóstolo” Renê Terra Nova, Ato
Profético é:
“uma expressão, uma atitude visível da Igreja que tem uma
referência e um respaldo no mundo espiritual. Digo que o ato profético é uma mensagem enviada ao reino do espírito
que ratifica a ação da fé e da Palavra.”
(Grifos nossos)
Ainda, seguindo orientação do mesmo livro, os
“atos proféticos” são executados com os seguintes propósitos:
“...uma conquista inimaginável,
pois estamos entrando numa linguagem
espiritual: conquistando no mundo
espiritual as bênçãos para o mundo físico. (... ) melhorar a atuação da Igreja
na conquista de territórios e impedir tantos contra-ataques que assolam o nosso
povo. (...) Cada pessoa que possuir este material estará apto para que, de
forma bíblica, alcance a bênção que o Senhor tem preparado tanto individual
quanto coletivamente.”
“enviar mensagens para o reino do
espírito de forma responsável, bíblica e fundamentalmente teológica”
“Os atos proféticos são uma
ferramenta de Deus para impedir que sejamos apanhados de surpresa. Na verdade,
é uma chamada de Deus para não permitirmos que o diabo adentre no nosso
arraial.”
“Os atos proféticos são uma ação no
mundo espiritual que se torna fator determinante para a posse de novos
territórios. (...) A realização desses atos emite mensagem no mundo espiritual, imobilizando a atuação do diabo e desatando a ação da igreja.”
(Grifo nosso)
UMA
VISÃO BÍBLICA ACERCA DOS ATOS PROFÉTICOS
Bem, tratar do conceito dos “atos proféticos”
é buscar, antes de tudo, a definição semântica inserta na própria terminologia.
Assim, “ato profético” vem a significar, literalmente, “ato de profeta”. Ou
seja, é um ato praticado por um profeta. Não podemos, também, dizer que
quaisquer atos praticados por um profeta alcançam o significado essencial da
terminologia, ora conceituada. Do contrário, o próprio fato de um profeta
dormir ou realizar quaisquer outras de suas necessidades fisiológicas já seriam
atos proféticos. Assim, faz-se necessário delimitar o conceito a fim de se
alcançar uma visão mais apurada do que poderá ser chamado de “ato profético”.
Logo, buscando uma conceituação mais aprimorada, podemos dizer que “ato
profético” é a “ação executada por um
profeta, com a finalidade de exprimir a vontade, a palavra ou mesmo o agir de
Deus, no presente, passado ou porvir”. Essa definição, evidentemente, será
melhor traduzida no decorrer desse estudo.
Seguindo, ainda, a lógica dessa definição,
não há como compreender, pois, o que é um “ato profético” sem antes entender as
características do ministério profético no Velho e no Novo Testamento.
Conseqüentemente, a grande questão que surge para aqueles que não estão muito
acostumados com a leitura e entendimentos bíblicos, é a seguinte: há diferença
entre o ministério profético do Velho e do Novo Testamento? Essa resposta quem
nos dá, primeiramente, é o próprio Cristo:
(Mt 11.13) - Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
(Lc 16.16) - A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o
reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele. (Ênfase
adicionada)
O ministério profético do Antigo Testamento
tem como finalidade principal a preparação da humanidade, em especial, do povo
de Israel, para a manifestação de Cristo. Isso porque o clímax da revelação se
cumpre em Jesus. Nesse sentido o apóstolo dos gentios nos diz que “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu
Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4). O fato de Paulo
denominar aquele momento como “a plenitude dos tempos”, está no reconhecimento
que, por meio de Cristo e dos apóstolos, a revelação de Deus, dada aos profetas
veterotestamentários, alcança seu ápice.
É evidente que o ministério profético na
Antiga Aliança dispõe-se de outras finalidades, tais como exortar, encorajar,
corrigir, direcionar, preparar e consolar o povo de Deus. Vemos isso, por
exemplo, por meio de Jeremias, Ezequiel, Malaquias, Oséias e tantos outros.
Contudo, cumprida a finalidade precípua do Antigo Testamento, que é a revelação
do Filho de Deus, há uma modificação expressiva no modus operandi do Espírito. A própria linguagem profética comum da
Antiga Aliança, revela características não presentes na Nova Aliança. Vemos no
Velho Testamento, por exemplo, expressões como: “Veio a Palavra do Senhor...”
(Gn 15.1; 1Sm 15.10; 2Sm 7.4; 2Sm 24.11; 1Rs 6.11; 13.20; 16.1; 21.17; Is 38.4;
Jr 1.4; 2.1; Ez 1.3; Jn 1.1; Mq 1.1; Sf 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1; 7.8 etc). Vemos,
outrossim, a mensagem profética do Antigo Pacto por meio dos ritos sacerdotais
e até mesmo das festas e comemorações do povo hebreu, as quais, em sua grande
maioria, apontam para a obra redentora do Mestre (Ex 12; Lv 1; etc.). O que não
acontece no Novo Testamento.
Desse modo, percebe-se que na Nova Aliança a
mensagem profética é mais acessível e, apesar de revelar diferença na forma, a
inspiração continua sendo divina, por meio do Espírito Santo (At 20.22,23). Observando
o comentário de Ezequias Soares, à revista Lições Bíblica, editada pela CPAD, aprendemos
o seguinte:
“A revelação que os apóstolos receberam era superior a que foi dada aos
patriarcas, reis, sábios, sacerdotes e profetas do Antigo Testamento (2Co 3.5-11).
Isso porque os apóstolos viveram o clímax da revelação em Jesus (Hb 1.1) e
desfrutaram da dimensão do Espírito Santo em uma época em que sua atuação não
era mais esporádica, mas plena e abundante”
A conclusão disso tudo é que, no Novo
Testamento, já não se fazem necessários a maioria dos ritos sacerdotais, legais
e proféticos contidos no Velho Testamento. Este fato se explica na manifestação
do Filho de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). O próprio escritor aos
Hebreus nos lança luz a essa questão:
(Hb
8.4-13) - Ora, se ele estivesse na
terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons
segundo a lei, os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais,
como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo;
porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. Mas
agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma
melhor aliança que está confirmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira fora irrepreensível,
nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-os, lhes
diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa
de Judá estabelecerei uma nova aliança, não segundo a aliança que fiz com seus
pais No dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não
permaneceram naquela minha aliança, Eu para eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles
dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu
entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles
me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu
irmão, dizendo: Conhece o Senhor; Porque todos me conhecerão, desde o menor
deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades,
e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. Dizendo Nova aliança, envelheceu a
primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.
(Grifos nossos)
Vemos no texto acima que o próprio rito
sacerdotal é apenas uma sombra do que a nós foi revelado. Ora, se é uma sombra,
a partir do momento que nos são revelados os mistérios de Deus, que é a
manifestação de Cristo, não há mais necessidade da prática de tais ritos como
regra litúrgica, nem mesmo como princípio. Nesse mesmo sentido, o doutor dos
gentios nos dá a seguinte lição:
(2Co
3.9-18) - Porque, se o ministério da
condenação
foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça. Porque
também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta
excelente glória. Porque, se o que era
transitório
foi para glória, muito mais é em glória o que permanece. Tendo, pois, tal
esperança, usamos de muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os
filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque
até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi
por Cristo abolido; e até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto
sobre o coração deles. Mas, quando se
converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é Espírito; e
onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a
glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como
pelo Espírito do Senhor. (Grifos nossos)
A Palavra nos informa, pois, que a consecução
das ordenanças ritualísticas do Antigo Testamento, bem como dos “atos
proféticos” ali encontrados, não alcançam mais respaldo bíblico, tampouco,
qualquer utilidade no tempo da Graça, ou “plenitude dos tempos”. Agir de modo
diferente é reerguer o véu que já foi rasgado pela morte redentora de Cristo.
Ainda, no mesmo sentido, nos assevera Paulo:
(Gl
3.1,2) - Ó INSENSATOS gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à
verdade, a vós, perante os olhos de quem
Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto
de vós: recebestes o Espírito pelas
obras da lei ou pela pregação da fé?
Ater-me-ei, inicialmente, nestes dois versos
que Paulo escreveu à igreja da Galácia, para demonstrar a diferença dos tempos
proféticos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Paulo inicia sua
exortação chamando os gálatas de insensatos.
Porém, qual era o motivo de o apóstolo ser tão duro com as palavras àquela
igreja? A razão era simples: esquecendo-se da obra redentora de Cristo, que põe
fim ao sistema ritualístico sacerdotal e profético do Antigo Pacto, os cristãos
gálatas retornaram a prática das obras da lei, abandonando a pregação da fé. E o que seria abandonar
a pregação da fé? Abandonar a pregação da fé é novamente aliar-se aos ritos
propagados pela Antiga Aliança. No caso da igreja da Galácia, alguns crentes
hebreus estavam obrigando gentios a circuncidarem-se (já pensou se nós
começássemos a adotar a circuncisão com mais um “ato profético”?). Paulo se ira
diante de tal situação, chegando a admirar-se do fato de tais cristãos terem “passado
tão depressa daquele que vos chamou à Graça de Cristo, para outro evangelho”. E
continua seu discurso dizendo: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos
anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl
1.8).
Tais afirmações do apóstolo dos gentios são
suficientes para me deixar de “orelhas em pé” quando vejo um novo “mover” se
levantando no meio da igreja. Não obstante, nas palavras do “paipóstolo” Renê
Terra Nova, vemos os seguinte:
Há
muito tempo a Igreja de Jesus vem caminhando numa rota que tem assustado
alguns líderes, principalmente aqueles de linha teológica mais reservada. Não
queremos ofender, tampouco subestimar a convicção doutrinária de nenhum homem
de Deus, todavia cremos que a revelação
não está fechada, pois recebemos o rhema de Deus. Nesses últimos dias o
Senhor trará luz ao entendimento de Sua palavra, e muitas questões que não eram
ventiladas tomar-se-ão comuns no ensino das igrejas bereanas.
(Grifo nosso)
Se nós estamos diante de uma “visão” que diz
que a revelação não está fechada, significa, para essa “visão”, que a Bíblia já
não é suficiente e que precisa ser complementada. Logo em seguida, Renê Terra
Nova nos diz que, nesses últimos dias, ou seja, no nosso tempo presente,
“muitas questões que não eram ventiladas tornar-se-ão comuns no ensino das
igrejas bereanas”. Onde está o respaldo para tal afirmação? Na Palavra? Creio
que não! Os mistérios do Senhor já foram manifestos aos homens, principalmente
por meio de Cristo! – isso não significa, entretanto, que não há mais nada a se
conhecer em Deus. A Palavra, ao contrário do que assegura Terra Nova, nos
adverte que nos últimos dias haveria uma significativa onda de apostasia (1Tm
4.1-4; 2Tm 3.1-5; 4.2,4; 2Ts 2.1-4). Conseqüentemente, qualquer revelação que
intente apresentar uma autoridade superior, ou mesmo igual a da Palavra, já é,
sem sombra de dúvida, afastamento dos próprios fundamentos da fé, ou seja:
apostasia:
(2Co 4.6a) – “E eu, irmãos,
apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do
que está escrito...”
(2Pd 1.20,21) – “Sabendo
primeiramente isto: que nenhuma profecia
da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados
pelo Espírito Santo.” (Grifos nossos)
Ora, se não devemos ultrapassar o que está
escrito, é prudente crer em uma revelação nova, superior àquela que foi dada
aos Apóstolos do Cordeiro, como sendo, autenticamente, bíblica? Não! Quanto
mais em relação aos famigerados “atos proféticos”, que têm ganhado força e
impacto supra-bíblico na vida dos incautos e, às vezes, até idólatras que os
adotam como modus operandi do
Espírito. Atestam ainda, os propagadores desses novos “moveres”, que tal
revelação se trata de um “rhema” de Deus dado a eles. Há validade para essa
afirmação? É evidente que também não! Isso porque, como nos exorta o apóstolo
Pedro no texto bíblico citado acima, a interpretação bíblica não é subjetiva
(particular), mas sim objetiva. Na verdade, acerca do que tem sido ventilado no meio da igreja pós-moderna,
Paulo nos adverte para “que não sejamos
mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo
engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”. Talvez seja por
isso que os grandes propagadores desse pseudo-evangelho estão cada vez mais
abastados, enriquecendo-se à custa da ignorância daqueles que não conhecem com
profundidade, ou negam a eficácia, da Palavra de Deus.
Contudo, o impacto que a adoção de tais
“moveres” no meio da igreja, é muito mais catastrófico do que se imagina.
Primeiramente, vemos, por meio desses “atos proféticos”, a criação de um
evangelho místico, desviado da Verdade (2Tm 4.4), baseado em fábulas, que
alcança um poder extremamente emocional, e pouco espiritual (1Co 2.14,15); ou
seja, sem profundidade e fundamento na inerrante Palavra de Deus. Não nos
surpreende, pois, o fato de o apóstolo dos gentios exortar a Timóteo para que
rejeite “as fábulas profanas e de velhas” exercitando-se na piedade (2Tm 4.7).
Em segundo lugar, vemos o aspecto idolátrico
que a adoção de tais “fábulas” gera em nosso meio. Percebe-se isso ao observar
atentamente o efeito que a execução de “atos proféticos” e a utilização de
“pontos de contato”, causa nas pessoas. Algumas, para alcançar determinado
nível de espiritualidade, ou mesmo alguma bênção, precisam ir a diversas
campanhas onde, naqueles lugares, tocarão no “manto sagrado”, comprarão a “rosa
ungida”, passarão pela “porta da esperança” ou serão ungidos com a “água do rio
Jordão”. Agora, troque estes elementos ou objetos por imagens de escultura e
você compreenderá o teor de idolatria que acompanham tais invencionices. Vale
lembrar que, por trás dos ídolos há demônios (1Co 10.19,20).
Os “atos proféticos”, segundo os “mestres da
fé”, representam “pontos de contato”; estes “pontos de contato” são, por sua
vez, facilitadores da fé. Ou seja, a
pessoa que sente dificuldade em ter fé, se vale de algo que é palpável no mundo
físico para tornar mais acessível esse dom. Entretanto, ao contrário do que se
é propagado por meio desses “atos proféticos”, a fé bíblica está estabelecida e
fundamentada não no que nós vemos ou tocamos (Hb 11.1). A fé genuinamente
bíblica está firmada no que não vemos, uma vez que o que vemos é temporal e o
que não vemos é eterno (2Co 4.18).
Percebe-se, ainda, que a tentativa de se
criar uma dependência física para o mundo espiritual, é inserir dentro da
igreja uma doutrina sensorial e ilusória. Normalmente encontramos tais
características nas religiões pagãs, as quais se dizem dependentes do mundo
físico para a movimentação do reino espiritual; é por isso que vemos tantos
pactos com sacrifício de animais, dentre outros, que, segundo tais crédulos,
selam algo no mundo espiritual. Em relação a isso, percebemos que os ritos
veterotestamentários não tinham o poder de movimentar o reino espiritual, mas
apontavam principalmente e, como já asseverado anteriormente, para a obra
redentora de Cristo. Logo, a adoção desses “atos proféticos” no tempo da graça,
revela um movimento de cunho muito mais emocional e psíquico do que realmente
espiritual. Digo que é muito mais
emocional pelo fato de que Deus, pela Sua soberana misericórdia, pode atuar
realizando curas e milagres por meio de tais “atos”; como podemos ver na
Palavra:
(At
19.11,12) - E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De
sorte que até os lenços e aventais se
levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os
espíritos malignos saíam.
Fiz questão de citar o texto acima visto ser
um dos preferidos dos defensores da utilização dos “pontos de contato” como
facilitador da fé. Em uma leitura superficial poder-se-ia afirmar que Paulo
incentivava os cristãos a levarem seus lenços e aventais para operação de
milagres. Contudo, observando-se mais atentamente, a Palavra não informa que o
doutor dos gentios incentivou, tampouco, ratificou tais ações. Vemos, ao
contrário disso, em Listra, ao curarem um enfermo pelo nome de Jesus, muitos
clamam a Paulo e Barnabé como deuses, pelo que, rasgando suas vestes, nos
deixam uma mensagem de completa humildade e uma lição que busca afastar da
pregação do evangelho qualquer tipo de idolatria, tendo como recompensa de sua
pregação, ao invés do reconhecimento de seu apostolado, um quase sacrifício
público, seguido de um apedrejamento (At 14.6-20). Entretanto, para
compreendermos melhor a forma adequada de se interpretar a Palavra, valho-me de
um texto que deixei consignado na apostila “Análise do Encontro”, para rápida
meditação:
Toda a Bíblia é inspirada por Deus, isso é um fato
incontestável! Entretanto, dentro da inspiração divina, nós, didaticamente,
podemos sistematizar a fim de descobrirmos as diferentes formas textuais
empregadas na Palavra. Poderemos, assim, dividir os tipos de inspiração,
basicamente, em cinco: 1) Inspiração principiológica; 2) Inspiração
mandamental; 3) Inspiração profética; 4) Inspiração promissiva ou promissória;
e 5) Inspiração descritiva. Qual a necessidade de compreendermos cada uma
dessas formas de inspiração? Na verdade, caro ledor, a imprescindibilidade de
se entender cada uma dessas formas de inspiração queda-se na necessidade de
sabermos diferenciar o momento em que o Senhor nos revela, em Sua Palavra, um
princípio, preceito, profecia, promessa ou quando apenas nos descreve um fato
que ocorreu.
Mas, voltando à compreensão de cada uma das formas de
inspiração, a primeira delas é a Principiológica. Sabemos que a Bíblia é um
livro constituído de diversos princípios. Esses princípios assumem a tarefa de
preencher algumas lacunas não tratadas por mandamentos. Exatamente isso! Por
exemplo, percebemos que a Bíblia, explicitamente, não condena o ato de uma
pessoa fumar. Entretanto, seguindo um princípio bíblico de que o nosso corpo é
templo do Espírito Santo (1Co 3.16,17), não podemos destruí-lo por meio dos
vícios e de práticas não saudáveis. Isso é um princípio bíblico. Perceba que
não há um mandamento explícito dizendo: não fumarás; ou não te drogarás. Desse
modo, algumas atitudes nossas serão albergadas por princípios bíblicos. Ainda
em relação aos princípios bíblicos, em Gálatas 5.19-21, Paulo nos traz uma
lista enorme das obras da carne, mas não encerra a lista ali; pelo contrário, o
apóstolo finaliza dizendo “e coisas semelhantes a essas”; ou seja, tudo que se
assemelha àquilo que ele diz são obras da carne, princípios que não devem ser
quebrados.
Em seguida nós temos a Inspiração Mandamental, em
sentido restrito. Dentre os mandamentos nós podemos citar o decálogo (Êx
20.3-17). Também temos a reafirmação do mandamento supremo pelo Senhor Jesus
(Mt 22.37-39; Mc 12.29-31; Lc 10.27). Na verdade a Inspiração Mandamental, latu senso, trata dos preceitos divinos,
mandamentos e princípios divinos. Apenas separei para fins didáticos.
Dando continuidade, temos também a Inspiração
Profética. É sabido que a Bíblia é composta de aproximadamente 1/3 de
profecias. A profecia, apesar de não estar acima dos mandamentos e dos
princípios, é de suma importância, pois corrobora e sustenta a autenticidade e
infalibilidade da Palavra. Perceba que as profecias bíblicas têm se cumprido
com 100% de precisão. Logo, a profecia torna toda a humanidade inescusável,
diante do descaso para com a mesma.
Logo mais, nós temos a Inspiração Promissiva ou
Promissória. Grande parte do texto sagrado é constituída de promessas. As
promessas, em diversos momentos, estão fundidas às profecias. Entretanto, as
promessas são bênçãos sobrenaturais que o Senhor, a nós, tem preparado. As
promessas não podem ser o motivo precípuo de seguirmos ao Senhor, senão
adentraremos em um fundamento hedonista, que tão somente serve a Deus pelos
benefícios futuros que serão alcançados. Devemos servir ao Senhor por amor e
com amor. As promessas nos servem de consolo, e corroboram a fidelidade e as
misericórdias de Deus para conosco.
E, por
último, chegamos à Inspiração Descritiva. A Palavra de Deus confirma a sua
autenticidade quando descreve fatos com detalhes. Isso mesmo! Percebemos que a
Bíblia não busca esconder os erros ou equívocos de seus santos. Também não
tenta esconder os eventos realizados pelos personagens citados. Quando a Bíblia
simplesmente nos conta um fato que aconteceu, nós estamos diante de uma
descrição. Por exemplo, o pecado de Saul (1Sm 13) é descrito na Bíblia não com
um mandamento, princípio, promessa ou profecia; é apenas descrito. Entretanto,
a Inspiração Descritiva, por diversas vezes, tem sido confundida com Inspiração
Principiológica ou Mandamental, e é nesse momento que devemos ter cautela.
Certa vez, por exemplo, vi alguém dizer que a Bíblia diz que “se a obra é de Deus vai perdurar; se não é
de Deus rapidamente vai se extinguir”. Tal afirmação está fundamentada no
conselho de Gamaliel (At 5.34-39). Contudo, seria realmente um princípio
bíblico essa frase destacada? Com um pouco de raciocínio lógico podemos
perceber a falsidade dessa premissa. Por exemplo, sabemos que religiões como o
hinduísmo, o budismo, o catolicismo romano ou mesmo o islamismo, já perduram
por vários séculos. Se aquela premissa fosse verdadeira, o que confirmaria a
autenticidade divina de uma religião seria o tempo. Entretanto, sabemos que
nenhuma dessas religiões é verdadeira; e que trazem diversos preceitos pagãos e
anti-bíblicos. Você consegue perceber que a Inspiração Descritiva pode ser
confundida com os outros tipos de inspiração?
Diante de tudo isso,
percebemos que o texto descrito em Atos 19.11,12, revela-se como uma descrição
de algo que ocorreu no tempo dos apóstolos e que não deve ser, necessariamente,
repetido. Não há, pois, incentivo apostólico, tampouco bíblico, para a execução
de “atos proféticos” no tempo da Graça.
CONCLUSÃO
Diante de um extenuante
texto como este, percebe-se que a execução de “atos proféticos” nos dias de
hoje, não alcançam qualquer respaldo bíblico. Na verdade, apenas serve para
fomentar e criar no meio da igreja uma cultura idolátrica fundamentada em
fábulas que afastam os cristãos da compreensão e exercício da fé autenticamente
bíblica.
Tais “moveres”, por sua
vez, são veiculados com um conteúdo de significativo emocionalismo e pouco
discernimento, ou seja, pouca espiritualidade (1Co 2.14,15). Não obstante, fica
revelado mais uma vez o grau de apostasia que tem corrompido a nossa geração,
conforme profetizado no texto sagrado.
A você, pastor ou líder,
que, ao ser tocado por este texto, decidir deixar de executar estes “atos
proféticos” dentro de sua igreja, certamente experimentará um esvaziamento
significativo do número de frequentadores. Isso, porém, não pode te desanimar,
pois, como assevera a Palavra, o nosso intuito, primordial, deve ser agradar a
Deus e não a homens (At 5.29; 1Ts 2.3,4), que buscam apenas alimentar seus
desejos idólatras e suas ilusões sensoriais. Por isso, não desista! Ore ao
Senhor e não permita que esses novos “moveres” contaminem a sua igreja.
Com humildade e em
Cristo, no desejo de que esse texto possa edificar alguns corações, eu agradeço
a Deus e, com as palavras de Paulo, oro para que sua Igreja permaneça firme, santificada
na Palavra da Verdade (Jo 17.17) e irrepreensível até a sua vinda (1Ts 5.23)!
A Paz do Senhor a Todos!
Jordanny Silva