QUANDO ATÉ O "BEM" NÃO ME CONVÉM
Tudo nessa vida precisa ser comedido, equilibrado. Até mesmo as virtudes! Uma virtude exercitada de modo imprudente se torna um fardo de inconveniência. A conveniência, por sua vez, sempre deve amparar a licitude de todas as coisas. Por isso Paulo nos diz que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém.
É fácil entender o fator conveniência versus licitude quando estamos diante de algo manifestamente errado. Entretanto, quando o assunto são as nossas virtudes, parece que temos o direito-dever de manifestá-las sem qualquer pudor, ou equilíbrio.
A sinceridade, por exemplo: Pensamos ser uma virtude a ser manifestada de qualquer modo, em qualquer ocasião e lugar, e a qualquer um. Há em alguns de nós uma necessidade pulsante de expô-la irrefreadamente. E, expondo-a, cheios de razão, ainda justificamos o nosso inconveniente vômito de sinceridade sob argumentos do tipo "eu sou sincero mesmo; não sou falso; vão ter que me engolir; quem não gostou é porque não gosta da verdade!".
Meus caros amigos, a medida de sobriedade para o exercício de quaisquer virtudes, deve ser o amor consciente, que nos alcança e nos enche de discernimento. E que discernimento é esse? Discernimento acerca do momento oportuno, dos motivos certos, e até mesmo em relação a quem é sujeito e objeto de nossas virtudes. No nosso exemplo acerca da sinceridade, o fato é que há até mesmo pessoas para as quais não podemos expô-la. Não obstante, será como lançar pérolas aos porcos.
Nossas virtudes devem ser exercidas em todo o tempo, mas com todo o amor, zelo e discernimento. Assim, acresce-se às virtudes que se evidenciam em nós, a conveniência, que em si mesma compreende o lugar apropriado, o momento oportuno e a pessoa (ou grupo de pessoas) certa.
A conveniência é, assim, uma virtude que nos ensina o exercício inteligente e apropriado de outras virtudes.
Reitero que até mesmo nossas mais sublimes qualidades não podem ser o fim em si mesmas que justifica as nossas atitudes inconvenientes.
Ajamos sempre com equilíbrio, inteligência e, sobretudo, em amor.
Não manifestar algo que poderia se auto-aclamar como virtude própria em alguns momentos, não representa em todos os casos falsidade, desvio de caráter, medo, covardia, omissão, ou coisas desse tipo. Pode simplesmente revelar maturidade daquele que carrega, em si, a virtude.
Entender isso pode nos ajudar a evitar muitos problemas. Mas lembre-se de mais uma coisa: Há momentos em que nossas virtudes devem ser exercidas manifesta e inequivocamente. Discernir isso é que é imprescindível!