terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aforismos e Poesias: Lúcidos devaneios - Parte 20




A ermo...

Como expressar o que sente
quando se constitui de um turbilhão de mudanças?
Não é confusão e, sim, incompreensão acerca de si mesmo.
Está fadado a não se entender?
Enquanto isso ela se aproxima,
chega bem perto e lhe abraça.
Que toque álgido
e que hálito árido e frígido e vago...
Num fosco olhar que lhe arrebata todo e qualquer brilho,
o gris lhe cerca e desvirtua o que lhe era incandescente.
Por te desejar longe te aproximas tanto
e de tanto não te querer és seu preferido.
Mas a vida é testemunha de que és
sua mais odiosa dileção.
Por que vens aqui hoje?
Já não fartaste a tua fome?
Devoraste-lhe até que nada
fez-se mais completo e cheio de signos...
E ainda vens? Que queres mais?
Já o amor se foi! Que mais lhe oferece?
Nem mesmo a inexistência lhe é qualificação devida:
Já não a tem e ainda não a é.
Mas sabe que é justamente o que não sabe...
E ainda voltas? Admiras a vacuidade de seu inexistir ser?
Sim, a vida é testemunha de que és
sua mais odiosa dileção.
Até quando a tua doce companhia
amargará seu viver?
Não vês que odeia te amar
porquanto fazes bem ao seu mal?
Tua presença lhe repele
e tua distância lhe atrai.
És luz enegrecida que lhe aquece enquanto esfria.
És fôrma inconforme;
És também balé estático
ao compasso da arritmia que ordena o coração...
És o caos organizado e és o vidro inquebrável.
És diamante flexível?
És o daltônico colorido e és o surdo alarido.
És prazer dolorido e és mesmo sem ser.
És insignificante signo e és o resultado insolúvel?
És limite indefinido e és, da constância, a curva.
Ó, como a vida é testemunha de que és
sua mais odiosa dileção.

Jordanny Silva

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