quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Aforismos e poesias: Lúcidos devaneios - Parte 22




Nicho da dor

Calabouço de paredes frias
e de umidade que avança em mofo;
sobre as úlceras rastejam as larvas
asquerosas, companheiras únicas.
Ao som que vem das sombras
carregado de arrepios e temores,
a negra nuvem baixa impiedosa;
logo salta aos olhos expressão de angústia,
medo e dor que cada vez mais perto
cobrem porquanto revelam tão vil realidade.
Nesse ardor de penúria e lamentos,
sempre opta pela solidão,
que é amiga e que repele e atrai aos desalentos;
que é cura e vírus; antídoto e veneno.
Tudo para que não sejas aqui reclusa,
já que o sofrer teu inda é a mais vil sensação.
Quais memórias de outrora,
donde nas fontes da esperança se nadava...
Mas agora a sequidão do ser lambeu suas águas;
e donde se bebia em abundância
hoje os lábios se lançam às poças, ao chão:
Chão rachado de cancros e cicatrizes.
Ali não há sombras de alívio;
há somente as do horror.
O aroma nostálgico das recordações
faz retorcer de azia,
e corrói ao âmago das entranhas que se fazem ser...
E ao horizonte que se põe além,
não se veem sonhos nem desejos sãos,
a não ser a sepultura,
que é doçura em taças amargas...

Jordanny Silva