segunda-feira, 27 de abril de 2009

Carta aos apologistas - parte 1: De volta ao primeiro amor


Hoje o universo de blogs se tornou a grande moda do momento. Inúmeras pessoas têm se valido desse meio de divulgação/propagação de idéias. Os temas dos blogs são dos mais variados, indo, desde diários pessoais, a assuntos críticos e polêmicos que atingem o interesse público. Entretanto, o que me tem chamado atenção é o número crescente de blogs com o foco voltado para a apologética.

Para quem não sabe o que vem a ser apologética, cumpre informar que se trata de um tema da teologia que tem por incumbência defender o pensamento/seguimento religioso contra detratores. Eu, particularmente, tenho apresentado, por algumas vezes, alguns escritos de cunho apologético. Contudo, estou aqui, hoje, com o intuito de tecer algumas considerações direcionadas a todos aqueles que se identificam com este “ministério”.

Mas, antes de tudo, eu te faço a seguinte pergunta: você já deu uma circulada pelo universo virtual a fim de conhecer alguns dos blogs que se intensificam na propagação de temas apologéticos? O que você tem notado? Em quê tais blogs têm engrandecido o seu conhecimento? Quanto ao conhecimento, posso afirmar quase que convictamente que os blogs apologéticos nos enriquecem de uma maneira extraordinária. Entretanto, não sei se você, tal como eu, tem percebido que uma grande parte dos autores dos blogs, se valem do universo virtual apenas para alimentar sua vaidade? Exatamente isso! Dê uma volta e logo perceberemos um conteúdo que não tem como objetivo essencial confrontar doutrinas falsas, mas sim afrontar pessoas/grupos que participam determinados seguimentos denominacionais.

Às vezes fico boquiaberto com a atitude de blogueiros apologistas, que, por acharem-se tão mais capacitados que os grupos (seguimentos religiosos) objetos de suas análises, chegam a ironizar de uma forma desrespeitosa, fazendo brincadeiras e zombarias em torno da ignorância destes. Uma parte considerável desse apologistas esquece-se que o Senhor nos ensina em Sua Palavra que devemos estar, sim, preparados “para responder a razão da nossa esperança”, mas tal resposta deve ser veiculada com mansidão e temor (1Pe 3.15). Porém, o que mais vemos são afrontas e mais afrontas, desconsiderando por completo o que a Escritura nos exorta quanto à forma de admoestação. Fica, por sinal, evidente que os apologistas que assim agem, na verdade não têm buscado exortar os irmãos no amor, mas sim demonstrar sua capacidade intelectual e seu amplo conhecimento bíblico. A humildade, nesse viés, passou longe.

O que tenho percebido, logicamente, é um intenso ritual ao ego próprio, por parte destes apologistas de plantão, que se julgam mais conhecedores e mais capacitados, acreditando, por vezes, serem os donos da Verdade. Devo asseverar que o verdadeiro servo de Deus em nenhum momento é dono da Verdade; cumpre-nos, sim, servir à Verdade (Jo 14.6).

Vejo também ferrenhas críticas dirigidas a seguimentos denominacionais adicionados de diversos juízos temerários. Compreendemos que as profecias, doutrinas e espíritos devem ser examinados. Contudo, quantas vezes já testemunhei acusações, por parte de apologistas, afirmando que os religiosos, que não se enquadram em sua forma de pensar, inserem falsas doutrinas dolosamente no seio de suas igrejas. Ora, por acaso tais apologistas estão certos de que conhecem o coração destes homens? (1 Sm 16.7b) Não estou aqui defendendo as doutrinas falsas, acréscimos e distorções, mas não devemos atribuir a ninguém juízo temerário. Muitas pessoas que participam de igrejas que têm práticas em dissonância com a Palavra têm um coração sincero, mas falham por ignorância (At 17.30).


Gosto de lembrar que, dentre as igrejas mencionadas no livro de Apocalipse, há uma que possui uma vertente extremamente apologética: a igreja de Éfeso (Ap 2.1-7). Mas você já percebeu onde ela falhou? Foi exatamente onde uma considerável parte dos apologistas erra: no abandono das primeiras obras. Alguns apologistas erguem-se para criticar e criticar, mas nunca agem compromissados com a propagação do Evangelho da cruz. Tenho uma pergunta sincera a fazer a você que é apologista: você tem anunciado o evangelho (Mc 16.15)? Você tem cumprido o “Ide” que o Senhor Jesus nos ordenou (Mt 28.19)? Você tem vivido o amor (1Co 13)? Você tem frutificado no Espírito (Gl 5.22)? Ou você tem apenas se levantado com o intuito demonstrar seu “elevado” conhecimento da Escritura, apresentando um conteúdo apologético com motivações erradas? Isso é uma forte demonstração de culto ao ego e abandono do primeiro Amor. Não tenho muito mais o que comentar acerca deste assunto, pois ele é dirigido a conhecedores profundos da Palavra.

Amados irmãos em Cristo, sou admirador dos trabalhos e escritos apologéticos, mas devemos ter cuidado com as nossas motivações. O amor às almas perdidas foi um dos pontos que motivou o ministério do apóstolo Paulo. De mesmo modo, o amor de Cristo pela humanidade, não pelo que a humanidade poderia oferecer, mas em virtude da própria natureza de Deus, foi que nos alcançou. Não abandonemos este amor. Amigos apologistas: continuemos no exercício deste ministério, mas sem esquecer-nos da nossa principal comissão que é “anunciar o evangelho a toda criatura”, e, reitero, façamos isso com amor, testemunho e boas obras!

A paz do Senhor a todos!

Jordanny Silva