INTERESTELLAR: O TEMPO E O AMOR
O
tempo traz em si, ou consigo, um fascínio bem peculiar: é
assombroso, quando não maravilhoso; é perceptivelmente forte e com
sua força nos humilha; é inescapável, ainda que dele tentemos
fugir; é pacificador, enquanto guerreamos com ele, até nos rendermos
à sua invencibilidade; é sutil, mas de um valor inestimável; é
silente, mas estrondoso; sabe curar enquanto fere; sabe ferir
enquanto cura; é feroz com os que não o aceitam, e é dócil com os
que o reverenciam; é o ourives da saudade e o artesão do saber...
Há
alguns anos assisti a um filme que alcançou sucesso incontestável
dada à sua história envolvente, apresentada de modo inteligente,
sensível, poético, com uma trilha sonora maravilhosa, trazendo em
seu bojo teorias de relevância científica, e que abordava o tempo
de modo profundo, cativante. A maioria de nós se viu encantado por
Interestellar de Christopher Nolan. Nesse filme, o que mais me chamou
a atenção foi a existência de dois personagens sutis, fortes,
envolventes e assustadores: o tempo e o amor! Sim, a história corre
em seus trilhos e os eleva, e os releva!
Quem
já assistiu ao filme se recorda do fatídico momento em que, tendo
aceitado uma missão que acreditara ter por objetivo salvar sua
família e, consequentemente, toda a raça humana, Cooper vai ao
quarto de sua filhinha, Murphy, para se despedir e lhe presenteia com
um relógio. Naquele diálogo, sabendo de tudo que envolve a dinâmica
temporal e sua relatividade, tenta de alguma forma amenizar a
situação, dizendo à sua filha que, quando ele estivesse lançado
ao cosmos, à deriva na imensidão do espaço rumo ao desconhecido,
agarrado a uma fagulha de esperança, o tempo mudaria para ambos.
Assim, quem sabe, quando ele retornasse de sua jornada, poderia ter a
mesma idade de sua filha. A reação de Murphy, aos 13 anos, não
poderia ser diferente: ante a iminente separação de seu pai, não
aceitou aquilo e lançou o presente [o relógio] contra a parede, num
ato de desespero, por não poder impedir que seu pai fosse.
A
história se alonga. O roteiro se desenvolve. As consequências
relativísticas aliadas ao tempo são evidenciadas quando alguns
membros da tripulação da nave Endurance precisam pousar num
planeta que fica próximo a Gargântua, um buraco negro. Ali, poucas
horas para Cooper e Amélia Brand resultam em mais de duas décadas
relativamente ao tempo que passou na Terra. De volta à Endurance,
mais de 23 anos havia passado. Coincidentemente, após esse tempo,
Murphy completa a idade que seu pai, Cooper, tinha quando saiu da
Terra, e lhe remete uma mensagem lembrando de sua promessa de que
retornaria.
Por
conseguinte, momentos dramáticos surgem à frente - os quais
deixarei para que os leitores se permitam conhecer assistindo ao
filme -, que forçam Cooper, em uma tentativa desesperada de salvar a
missão, bem como Amélia Brand, a última sobrevivente da tripulação
junto com ele. Assim, para conseguir mandar Amélia para o planeta de
Edmund, um tripulante de uma missão anterior denominada Lázaro, ele
precisa passar junto ao horizonte de eventos de Gargântua, ocasião
em que, deixado para trás, sacrifica-se para que sua companheira de
viagem chegue ao seu destino.
Solto
da nave Endurance, em um módulo de voo menor, Cooper passa a ser
atraído de modo inescapável por Gargântua que, à semelhança de
Cronos – o deus do tempo -, é um devorador voraz. Engolido por
Gargântua, Cooper é arremessado em um hipercubo, que é uma
conversão de uma visão pentadimensional para um ser que só
consegue acessar o mundo tridimensional. Aquela simulação de cinco
dimensões remete Cooper para o quarto de sua filha, onde antes ele
lhe tinha dado o relógio, e onde muitos outros fatos essenciais para
o entendimento do filme acontecem.
Cooper então entende que a única forma para se criar aquele ambiente pentadimensional, que lhe permitiria romper o espaço tempo, voltando no tempo em que sua filha ainda era criança, era por meio do amor que lhes envolvia. O amor tinha sido a chave! Sem essa ligação de amor; sem esse laço de afeto, não haveria possibilidade para que os seres – provavelmente humanos – mais desenvolvidos pudessem recriar o portal pentadimensional. Agora, graças ao laço de amor entre pai e filha, Cooper poderia mandar uma mensagem a Murphy. Entende ainda que, para que sua filha e o mundo fossem salvos, era inevitavelmente necessário que ele enviasse a si mesmo para uma aventura que lhe furtaria de ver a história de seus filhos de perto; que lhe furtaria o mais precioso dos bens: o tempo! Nesse momento fica claro quais são os dois personagens principais da história: o tempo e o amor; aquele, porém, submetido a este... Então, valendo-se dos dados que haviam sido coletados dentro de Gargântua, e que decifravam a singularidade, Cooper consegue transferi-los, ironicamente, aos ponteiros de segundos de um instrumento criado com a finalidade de marcar o tempo: um relógio. E Cooper sabia que sua filha, um dia, pegaria de volta aquele presente, uma vez que ele lho tinha dado. Murphy, por sua vez, já adulta, volta ao quarto de sua infância, ao profundo de suas lembranças, à origem de seus fantasmas, e resgata aquele pequeno objeto, percebendo, assim, que seu pai havia lhe mandado uma mensagem, e que essa mensagem era a solução da equação que salvaria toda a humanidade!
Cooper então entende que a única forma para se criar aquele ambiente pentadimensional, que lhe permitiria romper o espaço tempo, voltando no tempo em que sua filha ainda era criança, era por meio do amor que lhes envolvia. O amor tinha sido a chave! Sem essa ligação de amor; sem esse laço de afeto, não haveria possibilidade para que os seres – provavelmente humanos – mais desenvolvidos pudessem recriar o portal pentadimensional. Agora, graças ao laço de amor entre pai e filha, Cooper poderia mandar uma mensagem a Murphy. Entende ainda que, para que sua filha e o mundo fossem salvos, era inevitavelmente necessário que ele enviasse a si mesmo para uma aventura que lhe furtaria de ver a história de seus filhos de perto; que lhe furtaria o mais precioso dos bens: o tempo! Nesse momento fica claro quais são os dois personagens principais da história: o tempo e o amor; aquele, porém, submetido a este... Então, valendo-se dos dados que haviam sido coletados dentro de Gargântua, e que decifravam a singularidade, Cooper consegue transferi-los, ironicamente, aos ponteiros de segundos de um instrumento criado com a finalidade de marcar o tempo: um relógio. E Cooper sabia que sua filha, um dia, pegaria de volta aquele presente, uma vez que ele lho tinha dado. Murphy, por sua vez, já adulta, volta ao quarto de sua infância, ao profundo de suas lembranças, à origem de seus fantasmas, e resgata aquele pequeno objeto, percebendo, assim, que seu pai havia lhe mandado uma mensagem, e que essa mensagem era a solução da equação que salvaria toda a humanidade!
O
espectador pode ficar curioso quanto à fórmula que rompe a poderosa
força da gravidade, que encurva o espaço-tempo, que permite a
produção de portais que ligam galáxias distanciadas por milhões
de anos luz. Porém, de modo sublime, o autor do filme consegue
deixar claro que a fórmula é o amor! O amor rompe todas essas
barreiras... Transcende tempo, espaço, eras, cosmos, universos,
dimensões, mundos! O amor é a mensagem, é a fórmula, é a
solução, é a equação, é o equilíbrio, é o fundamento que
rompe a lógica, que humilha a ciência e que, mais do que tudo,
concilia-se enquanto vence e submete o tempo a si.
Tempo,
relógio, poesia, família, amor: temas que me encantam; temas que me
atraem! Espero que você assista ao filme, caso não tenha
assistido, e se encante também pelo roteiro, pela história, pela
trilha sonora, pelo mistério, pela ciência, pelo tempo e,
sobretudo, pela mensagem de amor que entrelaça e transcende tudo
isso...
Muito obrigado
por ler até aqui,
Jordanny.