UMA BREVE HISTÓRIA
Acredito que uma das melhores épocas da vida de um estudante é quando ele está próximo a se formar. Lembro-me que no ano de 2004 eu finalizava a minha faculdade. Diversos sonhos e planos pairavam sobre minha mente. Eram cinco anos de dedicação e fui ainda mais motivado pelo fato de ter conseguido sucesso nos exames que ditariam a minha profissão. Entretanto, a gama de conhecimento que eu adquirira atingiam diversos âmbitos de minha vida e até mesmo de minha fé. Tive um curso muito voltado para o conhecimento filosófico e sociológico, apesar de estes assuntos não serem o universo principal do ramo jurídico. Dessa forma, eu estava, nitidamente, apaixonado pelo conhecimento e pela filosofia humana.
Naquele mesmo período, minha igreja passava por algumas transições. Após diversas observações pelo resultado que as denominações que abraçaram a “Visão Celular” havia tido, o corpo de obreiros de minha igreja percebia que teríamos ótimos frutos se nos adequássemos àquela estratégia de trabalho. Não demorou muito e já estávamos nos debruçando em diversos livros relacionados à liderança e à aplicação de técnicas de administração, mormente utilizadas por empresas, dentro da igreja. Eu, por estar tão motivado com o conhecimento humano, era também um idealizador desse novo modelo de trabalho que nossa igreja adotaria. Ora, havia tido muito contato com livros de psicologia cristã, bem como com táticas motivacionais e empresariais (ainda que meu curso de formação não estivesse voltado para a administração empresarial) que geravam um espetacular resultado em um curto período de tempo. Ainda mais, nos livros evangélicos que se aliam a fusão do conhecimento bíblico à aplicação da liderança empresarial, há uma grande seqüência de citações bíblicas que, aparentemente, fundamentam na fé as argumentações e motivações apresentadas pelos autores. Ao mesmo tempo, meu senso crítico me conduzira a um sentimento de repulsa aos padrões conservadores adotados pelas igrejas que, apesar de serem pentecostais, ainda mantinham uma forte tradição voltada para os usos e costumes.
Aliado a isso tudo, eu estava convicto que o velho padrão adotado pelas igrejas conservadoras era, além de extremamente legalista, inaplicável a atual dinâmica do mundo. Com isso, a abordagem apresentada pela “Visão” era tudo que eu, juntamente como o corpo ministerial de minha igreja, não havíamos experimentado e se aplicava perfeitamente a nossa ambição de propagar o evangelho com eficiência e excelência. Era o que acreditávamos e estávamos dispostos experimentar uma transição dentro da igreja que poderia gerar diversas divisões. Havíamos conversado com outros pastores que se utilizaram deste processo de transição, os quais nos garantiram que os benefícios da implementação da “Visão” em nossa igreja, eram muito maiores do que as perdas que teríamos. Desse modo, após um demorado processo de análise, nossos pastores decidiram pela aplicação do novo método. Eu aplaudia de pé esta decisão.
Mas este novo método exigia de nós diversas adaptações. Primeiramente era necessária uma total quebra das tradições e do conservadorismo. Como já estávamos a algum tempo absorvendo inúmeras práticas comuns nas igrejas neopentecostais, não seria muito difícil mudar a nossa dinâmica de culto. Estes, por sua vez, se revestiram de uma nova roupagem onde a exposição da Palavra foi minorada para dar lugar aos cânticos e às apresentações do Ministério de Louvor. De mesmo modo já quase não havia espaço para testemunhos e para se cantar os hinos da harpa; ora, alguns de nós (incluo-me nesse rol), por exemplo, acreditávamos que os hinos da harpa eram retrógrados e deviam ser abolidos. Isso era, logicamente, um desrespeito àqueles irmãos que ainda tinham um amor aos cânticos que há muito eram entoados na igreja. Para mim, particularmente, era ótimo! Por ser músico participante do Ministério de Louvor, o meu tempo de apresentação fora expressivamente aumentado. Eu já não suportava ter que esperar um monte de “hinos e testemunhos chatos” para depois aparecer tocando minha guitarra como se fosse um “rei”. De mesmo modo, começamos a criticar a Escola Dominical bem como os cultos de doutrina. Queríamos algo mais dinâmico e moderno (graças a Deus o nosso pastor presidente, sob a direção do Espírito Santo, manteve diversos dos hábitos antigos). Adotamos, por isso, a Escola de Líderes. Era necessária a formação rápida de pessoas para assumirem as células a fim de haver uma célere expansão da igreja. E, realmente, isso aconteceu. Apesar de muitos dos nossos irmãos em Cristo terem saído da igreja por discordarem do novo modelo que estava sendo adotado, em pouco tempo nós tínhamos um novo número de participantes que superava o antigo número de crentes. Era extraordinário ver o crescimento da igreja. Parecia, finalmente, que Deus havia ouvido e respondido as nossas orações. Vários de nós tinham um coração sincero e acreditávamos estar no caminho correto.
Antes de continuar nesse breve histórico e testemunho pessoal da implementação do modelo celular em nossa igreja, cumpre mencionar, rapidamente, o processo de transição. Este processo dura alguns meses. Para um maior sucesso é necessário que a liderança, no intuito de não perder muitos membros, comece a trazer alguns estudos voltados para a submissão às autoridades, consagrando (como biblicamente o é) o corpo ministerial da igreja como sendo parte destas. Logo, qualquer um que não admita o implemento da “Visão” e se levante contra a nova ideologia do corpo ministerial, é, inequivocamente, tido como rebelde. O interessante é observar que toda abordagem de ministrações são veiculadas com uma citação bíblica que se aplica, convenientemente, ao que é proposto. São diversas as táticas de convencimento. Entretanto, uma das mais eficientes é o “Encontro”. Em nossa igreja, para que não soasse tão dissonante com os costumes dos crentes mais antigos, nós adotamos a nomenclatura “Retiro de Impacto”. A idéia era aplicar a mesma metodologia da “Visão”, contudo, sem gerar muito choque. Particularmente, não tenho nada contra a aplicação de um retiro de cunho espiritual. Entendo conveniente aos irmãos, em algumas oportunidades, retirarem-se para um momento de consagração e de meditação na Palavra, acompanhado de ministrações e exposições bíblicas autênticas. Porém, o conteúdo das ministrações é o que nos gera preocupação e é exatamente este o objeto de nossa análise. Contudo, vamos dar continuidade ao breve relato aqui proposto.
Assim, no ano de 2005, aceitei, convicto de que era a melhor decisão que eu tomava em minha vida, o convite para participar de um desses “Encontros”. O resultado deste “retiro espiritual” foi, realmente, impactante. Parecia que eu, que havia nascido no evangelho, nunca havia tido um contato verdadeiro com Deus até então. Era, como costumeiramente se diz, “Tremendo”; uma realidade nunca experimentada por minha alma. Estava extasiado, apaixonado pela idéia e pelo que havia sentido. Já havia ouvido falar, anteriormente, por várias vezes deste tal de “Encontro” e, sem conhecer, havia até me predisposto a não aceitá-lo em hipótese alguma. Mas, como haviam asseverado: se eu experimentasse mudaria minha opinião. E isso foi o que aconteceu. Este encontro que eu participei era, em muito, diferente do que tinham me falado anteriormente. Não havia regressão descarada (apenas disfarçada), nem alguns dos rituais estranhos que já me haviam advertido; pelo contrário, os temas ali ministrados aparentavam-se muito centrados na Palavra e os rituais sempre eram acompanhados de uma “base” bíblica para respaldo. A conseqüência lógica é que, pouco tempo depois, nós mesmos estaríamos organizando e executando encontros semelhantes para a nossa igreja. Seria a explosão de um “mover” novo em nosso meio. Mas, como é a nossa proposta aqui definida, passaremos a uma análise do que ali vi e ouvi, bem com o do que foi aplicado em nossa igreja.
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