Fazendo a leitura da apostila, no concerne à ministração “O Batismo no Espírito Santo”, observei que o autor se apoiou, com amplo fundamento, nas Escrituras Sagradas. Também pude observar, nas ministrações que são veiculadas no Encontro, que o fundamento bíblico é extremamente consistente.
Quando chego a essa conclusão, muitos podem até perguntar: então, porque tratar do assunto? A resposta é simples! O problema não está no momento da palestra, em si, mas sim no que acontece após a palestra. O problema reside na hora da oração.
Para compreendermos tudo isso, iniciarei com o meu testemunho pessoal, de quando participei do Encontro como seminarista e, em seguida, trataremos do que comumente acontece nos Encontros promovidos por minha igreja.
Testemunho Pessoal: A Unção do Riso e o Cair no Espírito
Recordo-me que durante todo o Encontro em que participei como seminarista, o tempo todo, os palestrantes falavam que nós ainda não havíamos recebido tudo. Quando, por exemplo, saímos da ministração “Indo à Cruz”, eles diziam que a gente ainda não tinha experimentado nem 50% do “mover” que Deus tinha preparado para nós.
No domingo pela manhã, após a ministração “A Nova Vida em Cristo”, deu-se início à ministração “O Batismo no Espírito Santo”. A palestra, em si, não trouxe nenhum equívoco doutrinário. O palestrante nos trouxe todos os requisitos bíblicos para o recebimento do Espírito. Também nos trouxe a explicação acerca da promessa do derramamento do Espírito Santo (Jl 2.28-31; At 2.14-21). Houve também uma explicação bem didática sobre o que é falar em línguas e, segundo o palestrante, como é fácil falar em línguas estranhas.
Até então, tudo corria de acordo com a Palavra. Entretanto, ao final da palestra, o ministrante pediu que todos ficassem de pé e que fossem retiradas as cadeiras. Logo em seguida, ele pediu para aqueles que não eram batizados no o Espírito Santo ficassem de um lado, e os demais do outro. Também, seguindo a instrução da apostila do Encontro, começou a tocar uma música que tem por finalidade criar um clima todo específico para o momento. Ressalto, outrossim, que, orientando a todos os seminaristas, nos pediu que orássemos buscando o revestimento de poder.
Não demorou e o tal “mover” começou a acontecer. A equipe de trabalho ficava circulando em meio aos seminaristas e orava impondo as mãos na cabeça dos mesmos. Tal equipe não descansava enquanto o seminarista não caísse no chão. Já recebi alguns testemunhos de pessoas que resolveram cair no chão para finalizar, o mais rápido possível, o ritual de oração, uma vez que a pessoa que orava ficava gritando no seu ouvido e sacudindo a sua cabeça. Alguns caíam no chão rodopiando, girando de um lado para o outro. Outros gritavam intensamente. Outros, tão somente, ficavam inertes na posição que caíram. O importante, segundo o que se podia observar, era que o “mover” derrubasse todo mundo.
Dando seguimento ao momento do “mover”, o pastor que estava à frente da palestra, simplesmente chamou um dos participantes do Encontro e disse aos seminaristas que, naquele momento, iria ministrar um mover diferente. Em seguida olhou para a face daquele participante e começou a rir freneticamente. Os dois começaram a rir irracionalmente. Segundo esse pastor, aquela era a chamada unção do riso. De repente, quase que misteriosamente, todos que estavam dentro da capela começaram a rir também. Alguns riam que rolavam no chão. Eu, em minha ignorância, participava de tudo e achava “o máximo” aquela nova unção. Ríamos sem parar. Um olhava para a face do outro e começava rir. Essa era a famosa “unção do riso”.
O interessante é que essa tal “unção” ainda continuou por alguns dias em nossa igreja. Também não foi, de forma alguma, debatida a base bíblica para a mesma. Logo, para muitos de nossa igreja, a “unção do riso” era uma das multiformes apresentações do Espírito Santo. O que muitos talvez não saibam é que esse mover foi amplamente propagado por um pastor americano chamado Kenneth Hagin. Junto a Hagin nós temos, como precursor dessa “mania” de “cair cheio do Espírito”, Benny Hinn. Temos alguns vídeos no próprio Youtube que confirmam isso. Entretanto, quem são Kenneth Hagin, Benny Hinn e seus precursores?
Para isso é necessário tratarmos, ainda que superficialmente, da teologia da Fé. Segundo Hank Hanegraaff, no livro entitulado “Cristianismo em Crise”, podemos ler o seguinte:
“Não há como negar que grande parte da teologia da Fé deriva-se diretamente da metafísica. Mas algo da substância, estilo e esquemas próprios do movimento pode ser oriundo dos ensinos e práticas primariamente expressos por certos milagreiros e reavivalistas da fé, após a Segunda Guerra Mundial, que atuaram dentro de círculos pentecostais. No tocante às substâncias, por exemplo, tanto Kenneth Copeland quanto Kenneth Hagin apontam para T. L. Osborn e William Branham como verdadeiros homens de Deus que influenciaram grandemente suas vidas e seus ministérios. Naturalmente, o próprio Osborn seguia consistentemente E. W. Kenyon, em suas práticas de distorção das Escrituras, e Branham Tinha denunciado (entre outras coisas) a doutrina da Trindade como diabólica.
Infelizmente, Hagin e Copeland não estão sozinhos na confirmação dos dizeres de Branham; o proponente da Fé, Benny Hinn, também o aprova de todo o coração. Quando se trata do estilo, porém, Hinn gravita mais na direção dos milagreiros da fé como Aimee Semple McPherson e Kathryn Khulman. A influência dessas mulheres sobre a vida e o ministério de Hinn é tão grande que ele continua visitando seus locais de sepultamento e experimenta “a unção” que, segundo afirma, emana dos ossos delas. Em adição, Hinn tem dado seu endosso ao notório reavivalista A. A. Allen, um publicitário da fé, se é que podemos chamá-lo assim.”[1]
Entretanto, gostaria de ater-me a apenas três desses “mestres da fé”, para discutirmos todo esse movimento espiritual que tem acontecido no Encontro. São eles: Kenneth Hagin; Kenneth Copeland; e Benny Hinn. Antes de darmos seguimento ao estudo, gostaria de apresentá-los segundo as palavras de Hank Hannegraaff:
Kenneth E. Hagin
Não somente Hagin jacta-se de alegadas visitas ao céu e ao inferno, mas também conta numerosas experiências fora do corpo. Conta que, estando no meio dum sermão, foi subitamente transportado de volta no tempo, indo parar no assento de trás dum carro onde viu uma jovem da sua igreja cometendo adultério com o motorista. A experiência inteira durou cerca de quinze minutos, após o que Hagin abruptamente se viu de volta à igreja, e exortou seus congregados a orarem.
Virtualmente, todo mestre da Fé importante tem sofrido o impacto do ministério de Hagin, incluindo um de seus pupilos mais importantes, Kenneth Copeland.
Kenneth Copeland
Copeland deu início ao seu ministério memorizando as mensagens de Hagin. Não demorou muito para aprender o bastante de Hagin e estabelecer seu próprio sistema sectário. Dizer que seus ensinos são heréticos é uma exposição suavizada. Copeland pronuncia ousadamente Deus como o maior fracasso[2] de todos os tempos, proclamando atrevidamente que “Satanás venceu Jesus na cruz”. Descreveu Cristo no inferno como “um espírito emaciado, exaurido, apequenado e verminoso”.
Mais sobre os ensinos de Copeland e suas conexões ocultas são documentados adiante neste livro, incluindo paralelos entre ele e o fundador do mormonismo, Joseph Smith. A despeito das evidências, Benny Hinn advertiu em tom ameaçador que “aqueles que
atacam Kenneth Copeland estão atacando a própria presença de Deus”.
Benny Hinn
Benny Hinn é uma das estrelas de mais rápido crescimento no circuito da Fé. De acordo com um artigo na revista Christianity Today, em edição de 5 de outubro de 1992, as vendas de seus livros, no último ano e meio, ultrapassaram as de James Dobson e Charles Swindoll juntos. Ao mesmo tempo em que reivindica estar “sob unção”, Hinn tem proferido algumas das mais inacreditáveis declarações que se possa imaginar, incluindo a reivindicação de que o Espírito Santo lhe revelara que as mulheres haviam sido originalmente constituídas para dar à luz pelo lado de seus corpos.
A despeito de fatos tão absurdos quanto ultrajantes, Hinn tem conseguido obter larga aceitação e proeminência dentro da igreja cristã evangélica. Sua plataforma, na Trinity Broadcasting Network, bem como a promoção favorecida por editores evangélicos que não seguem uma linha doutrinária ortodoxa, têm-no alçado a uma condição de inegável estrelato.
Quer fale da história de sua família ou de seus encontros com o Espírito Santo, suas histórias raramente se harmonizam com os fatos. Um caso a destacar são as milhares de curas reivindicadas por ele. Recentemente ele me enviou três exemplos – presumivelmente o primor da sua colheita – como prova de seu poder como operador
de milagres. Um dos casos envolveu um homem supostamente curado de câncer no cólon. Uma pessoa ingênua nas lides médicas, ao ler o relatório patológico, bem poderia ver a nota de “sem evidência de malignidade”, e mesmo assim ser enganada. O consultor medito dos Instituto Cristão de Pesquisas, entretanto, observou que o tumor do cólon em questão fora removido cirurgicamente, em vez de ser curado milagrosamente! Os outros dois casos tiveram problemas comparavelmente sérios.[3]
Estes três “mestres” do movimento da “Fé na Fé” foram apresentados como grandes precursores, aqui no Brasil, desse novo mover que vem contagiando as igrejas evangélicas. Mas os abusos não param por aí. Kenneth Hagin, eu seus absurdos doutrinários, chega a afirmar que Jesus Cristo, ao morrer na cruz, uniu-se à natureza de Satanás tornando-se o próprio diabo. Ainda segundo Hagin, Jesus, por ter levado os nossos pecados, foi para o inferno e lá foi torturado por Satanás e pelos demônios.
Caro leitor, a questão é muito mais complexa do que se imagina. Tais afirmações são suficientes para colocar em descrédito o ministério de Hagin. O que ele prega extrapola meros equívocos doutrinários ou divergência em questões que, comumente, não há unidade entre as diversas denominações evangélicas (tal como a continuação dos dons espirituais; o predestinalismo etc.); chega a ser demoníaco. Estes são apenas algumas das diversas distorções doutrinárias apresentadas por esse mestre do “movimento da Fé”.
Benny Hinn não fica atrás: chegou a afirmar que a trindade divina alcança três composições tricotômicas. Segundo Hinn, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito são compostos, cada um, de corpo, alma e espírito. Um tanto estranho não? Ora, isso está muito além de uma mera incompreensão bíblica, é uma manifesta doutrina demoníaca. E, pasmem, foi Benny Hinn o precursor desse “mover” chamado o “cair” no Espírito.
Os fundamentos desses grandes “mestres” do “movimento da Fé”, chegam a sair de bases fundamentadas em seitas, e alcançam bases no próprio ocultismo. Por meio da utilização de técnicas como da “visualização avançada”, dentre outras. Tudo isso amados, revela um câncer que tem atingido as nossas igrejas gerando distorção, confusão e morte espiritual a muitos. A prática desses homens chega a ser comparada a estelionato, uma vez que ilude os espectadores por meio de fantasias e inverdades, e os faz, ainda, financiarem tais movimentos sectários (não posso, tampouco, chamar as igrejas desses homens de evangélicas).
Para se ter uma idéia do nexo que tal movimento tem com o ocultismo, Hannegraff chega a citar as palavras de Benny Hinn, em uma de suas aparições no programa Praise the Lord, da TBN, onde ele revela a história de uma bruxa, ao discutir sobre o “poder da palavra”:
Tem uma bruxa que me contou o seguinte: “Você sabe que na feitiçaria nos ensinam como matar pássaros com uma palavra, e como matar pessoas por meio de nossa boca... Fomos ensinadas a atrair enfermidades sobre os homens falando certas palavras que os derrotam” Ela pode realmente causar enfermidades que podem tirar a vida... Disse ainda: “Mediante o uso de palavra, eu costumava matar pássaros, literalmente”. Disse que podia falar a um pássaro e este cair redondamente morto... Pensei: “Caro Deus, não sabia que o diabo tinha tal poder”. E o Senhor me respondeu: “Se o diabo pode matar por meio de palavras, você com suas palavras pode transmitir vida”. E isso me impressionou muito por dentro, irmão... E nós, os crentes, não percebemos o poder que temos em nossas bocas.[4]
Ainda acerca da vontade de Benny Hinn em ratificar suas invencionices e absurdos, em análise ao fenômeno “cair no poder do Espírito”, o Pr. David Bay diz o seguinte:
A verdade se tornou relativa, até mesmo para as pessoas que se consideram cristãs. A verdade agora significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mesmo dentro das fileiras daquilo que chamamos de cristianismo bíblico. Não estamos falando de diferenças em coisas não-essenciais — as áreas cinzentas de doutrinas — mas quase toda doutrina fundamental está agora sob cerco à medida que os pastores fazem uma omelete com a Palavra Santa de Deus, distorcendo-a e tirando-a do contexto para construir sua própria variedade de "cristianismo". Uma coisa a lembrar — você não pode santificar as falsas doutrinas pelo uso repetido do nome Jesus, ou pela ocorrência de milagres, sejam eles falsificados ou reais. Os demônios operam milagres regularmente por meio dos xamãs para o propósito expresso de enganar as pessoas. Na verdade, vemos exatamente essa ocorrência de poder xamânico sendo usada para
enganar as pessoas no livro dos Atos dos Apóstolos, na pessoa de Simão, o Mágico. [Atos 8:9-24]
Benny Hinn pode ser o mais recente na longa lista desses feiticeiros públicos, cortado da mesma amostra de tecido que Simão Mago.[5] (Grifo nosso)
Não é de se espantar que um “mover” baseado nas doutrinas de tais “mestres” do “movimento da Fé”, seja tão estranho. Esse “mover” não acompanha qualquer base bíblica. Ainda que, insistentemente, tais “mestres da Fé” busquem corroborar tais atos em passagens bíblicas, apenas apresentam referências isoladas, ou mesmo, descontextualizadas em relação à Palavra e, contextualizadas, em relação à distorção doutrinária que defendem. Amados, a Palavra não é de particular interpretação. Ou seja, a interpretação bíblica não é subjetiva, é objetiva:
(2Pe 1.20) - Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. (Grifo nosso)
Tentar utilizar textos bíblicos isolados para fundamentar opiniões e justificar abusos doutrinários é ferir a própria Escritura. Vemos, por exemplo, que, por meio do seminário Rhema, Kenneth Hagin tenta trazer fundamento para suas “revelações” informando que Rhema é uma “palavra específica, num tempo específico para uma pessoa, ou grupo de pessoas específicas”. Contudo, não há qualquer fundamento bíblico para tal afirmação. As palavras, Rhema e Logos, têm, ambas, o mesmo significado; não havendo quaisquer diferenciações semânticas entre as mesmas. Toda essa conceituação não passa de uma invencionice criada a fim de forçar um fundamento bíblico para cada uma dessas palavras; assim, tais “Mestres da Fé” constroem a verdade por meio da repetição de uma definição mentirosa.
Gostaria de deixar claro que não é meu intento desconsiderar o dom de profecia. Creio que Deus ainda fala por meio do dom de profecia e da revelação (1Co 14.3). Entretanto, toda profecia deve ser examinada:
(1Ts 5.19-21) - Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem.
Em outras palavras, toda profecia que vem pelo dom do Espírito conforme o Novo Testamento, deve ser julgada. E esse julgamento precisa obedecer à Palavra (Jo 7.24). Aliás, todo espírito deve ser julgado para saber se procede ou não de Deus, se não, vejamos:
(1Jo 4.1) - AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (Grifo nosso)
É imprescindível frisar que a própria Palavra nos exorta severamente acerca da conivência com doutrinas falsas e distorções bíblicas:
(2Jo vv. 10,11) - Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras. (Grifo nosso)
Mas voltando ao tema “cair no Espírito”, tal “mover”, segundo os grandes “mestres da Fé”, tem por fundamento o texto a seguir:
(2Cr 5.12-14) - E os levitas, que eram cantores, todos eles, de Asafe, de Hemã, de Jedutum, de seus filhos e de seus irmãos, vestidos de linho fino, com címbalos, com saltérios e com harpas, estavam em pé para o oriente do altar; e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas). E aconteceu que, quando eles uniformemente tocavam as trombetas, e cantavam, para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao SENHOR; e levantando eles a voz com trombetas, címbalos, e outros instrumentos musicais, e louvando ao SENHOR, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre, então a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a casa do SENHOR; e os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do SENHOR encheu a casa de Deus. (Grifo nosso)
Desse modo, todos os que defendem o “cair no poder do Espírito”, dizem que tal fenômeno ocorre quando a glória de Deus enche o lugar, ou a vida de uma pessoa. Entretanto, gostaria de trazer algumas colocações relativas a esse texto. Primeiramente, a manifestação da glória de Deus, na construção do templo de Salomão, apresentou uma inequívoca evidência física: a fumaça ou nuvem. Note que, diferentemente do que normalmente ocorre nessas atuais “concentrações de Fé”, naquele dia a glória do Senhor se manifestou visivelmente, enchendo todo o templo. A tradução ACF (Almeida Corrigida e Fiel), nos informa que os sacerdotes “não podiam permanecer em pé”; já a tradução ARA (Almeida Revista e Atualizada), nos diz que “os sacerdotes não podiam estar ali para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor encheu a Casa de Deus”; não poderia deixar de citar uma tradução mais atual, a NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje), que diz o seguinte: “Quando os sacerdotes estavam saindo, uma nuvem encheu o Templo de Deus, o Senhor, com a glória do Senhor. Por isso, eles não puderam voltar para dentro a fim de realizar os seus atos de culto”; a NVI (Nova Versão Internacional), também, acerca do mesmo texto, diz “de forma que os sacerdotes não podiam desempenhar o seu serviço, pois a glória do Senhor Encheu o templo de Deus”. A mesma passagem é traduzida, em tais versões, com as mesmas expressões, em 1Rs 8.11. Note que as únicas versões que trazem a expressão “não podiam permanecer em pé” é a ACF e ARC. Isso revela que o sentido real de “não poder permanecer em pé”, não significa, exatamente, cair; demonstra, sim, que os sacerdotes não puderam dar continuidade a seus trabalhos, comumente realizados, por causa da nuvem da glória de Deus. Conclusivamente, observa-se que tal texto não é suficiente para corroborar o “cair no Espírito”.
Não podemos, também, dizer que uma pessoa, ao encher-se do Espírito Santo, não pode chegar ao estado de prostrar-se. Há muitos crentes fiéis que, após um período de consagração específica, aliada ao jejum e à oração, se viram prostrados diante de Deus. Mas o prostrar-se é totalmente diferente do cair. Na verdade, o “cair” que comumente temos presenciado atualmente, tem muito pouco a ver com a manifestação do Espírito. É, e posso afirmar categoricamente baseado no que temos visto, apenas um “mover” que está na moda. É um modismo que tem sido abraçado, cada vez mais, por diversas denominações evangélicas que aceitaram as doutrinas e “extravagâncias” trazidas e inventadas pelos “mestres da Fé”.
Outros, ainda querendo, de alguma forma, fundamentar o “cair no Espírito”, aliado a todas as manifestações frenéticas encontradas no Encontro, poderão se valer do fato descrito em Atos 2, que nos fala acerca do revestimento de poder que os discípulos, juntamente com os demais irmãos que estiveram em Jerusalém, experimentaram. Segundo alguns defensores desse “mover”, uma pessoa cheia do Espírito fica semelhante a um bêbado e a prova disso está no próprio texto que diz que Pedro, e os outros onze, ergueram-se do chão; o que poderia sugerir que os mesmos estavam caídos. Entretanto, vamos analisar a passagem em questão para podermos alcançar uma conclusão? Vejamos:
(At 2.4-15) - E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto. Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. (Grifo nosso)
Se pudermos observar, segundo esse texto, a reação da maioria das pessoas, que vinham de diversos lugares, era maravilhar-se com tudo o que estava ocorrendo. O “som” que veio do céu foi ouvido por muitos. Contudo, havia no meio do povo alguns zombadores; e estes é que desferem acusação, insinuando que aqueles crentes estavam embriagados. Em resposta a essa insinuação é que o apóstolo Pedro faz a sua defesa. Perceba que, tampouco, a expressão “pondo-se em pé com os onze”, dá espaço para dizermos que ambos estavam caídos. Poderiam estar prostrados, ou de joelhos. Observe que a presteza com que Pedro, juntamente com os onze, se levantam, revela que os mesmos mantinham-se em completa consciência e disposição para responderem àquelas acusações; muito diferente do que vemos nessas “concentrações” onde algumas pessoas mal conseguem se sustentar; pelo contrário, parecem, efetivamente, estar acordando de um estado de transe. Não há como comparar esse novo “mover” com o que aconteceu naquele fatídico dia de pentecoste.
Uma leitura sem preconceitos nos levará a mesma conclusão. Tudo que nós temos visto são os defensores desse “novo evangelho” desesperados para conseguirem fundamento bíblico para essas novas invencionices; entretanto, o verdadeiro evangelho tem sobrevivido, pelo poder de Deus, a tudo isso. Todo esse novo “mover” nada tem a ver com AVIVAMENTO, com diz o pastor e mestre Antônio Gilberto, isso é AVILTAMENTO.
[1] HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em crise: Um câncer está devorando a Igreja de Cristo. Ele tem de ser extirpado! CPAD : 2004. 4 ed. Tradução: João Marques Bentes. P. 32 e 33.
[2] Palavras de Copeland ditas no programa “Praise-a-Thon”, pela TBN em abril 1988: “Fiquei chocado ao descobrir, na Bíblia, quem realmente é o maior fracasso de todos os tempos... O maior deles é Deus... quero dizer que ele perdeu seu anjo de maior valia, o mais ungido [Lúcifer]; o primeiro homem que criou [Adão]; a primeira mulher [Eva]; a Terra e toda a sua plenitude, e uma terça parte dos anjos, pelo menos – e isso é uma grande perda, meu caro... Ora, a razão pela qual você não consegue ver Deus como um fracassado é que ele nunca confessa isso. E você não é um fracasso enquanto não confessa”.
[3] HANEGRAAFF, Hank. Op. Cit. p. 35-37.
[4] Ibid. p. 89/90.
[5] BAY, David. A Ilusão Carismática: As Estranhas Doutrinas de Benny Hinn – Um poderoso xamã disfarçado de pastor – Parte 1. Fonte: http://www.espada.eti.br/
[6] GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Pneumatologia: A Doutrina do Espírito Santo. 2 ed. CPAD : 2008. p. 218.
2 comentários:
Boa tarde...lí sua análise sobre o "Encontro"e percebi que você participou apenas como um mero expectador, o que lamento, pois Deus e suas manifestações não se comprende com a mente carnal, seremos eterno leigo no que se refere ao espiritual, portanto não se apresse em julgar, aquilo que não entende, não fale, você pode cair no erro de blasfemar contra o "Espírito Santo de Deus"e como a Bíblia ensina é pecado e para esse tipo de pecado não há perdão...com amor de Cristo...Elizabethy
Cara irmã,li todo o seu relato, no entanto acredito que você foi apenas para analisar. Tudo o que você falou tem embasamento bíblico, no entanto eu acredito que Deus é criativo. Podemos estudar Deus em toda a Escritura e mesmo assim não saber nada Dele. Ainda posso dizer que não foi meu curso de pastor que me fez ganhar almas e mudar as vida de pessoas. Foi exatamente esse "mover" que você descreveu
Cristianismo não é religião e sim relacionamento com Deus
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