CAPÍTULO 4 - O perfume de Cristo
“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.” (2Co 2.14-17) [Ênfases adicionadas]
Alguns anos antes de partir para a glória, A. W. Tozer de modo verdadeiro e, por isso, profético escreveu o seguinte:
Seria um arranjo conveniente se fôssemos constituídos de modo que não pudéssemos falar melhor do que vivemos. Por razões que Deus conhece, porém, parece que não há necessariamente ligação entre o nosso falar e o nosso agir; e aqui está uma das armadilhas mais terríveis da vida religiosa. [O Poder de Deus; A. W. Tozer, p. 29; Editora Mundo Cristão, 1995. 3ª ed. Tradução de Odayr Olivetti].
O motivo da preocupação desse exímio pastor, escrita nos anos 1950, é tão atual quanto sempre foi na história da caminhada da igreja cristã ao longo dos séculos. O crescimento efetivo da igreja santificada sempre esteve atrelado ao testemunho. É, nos dizeres de Paulo, a fragrância do conhecimento de Deus. Sendo assim, a percepção da manifestação do conhecimento acerca de Deus está no bom testemunho.
A palavra “mártir” significa, originalmente, testemunho. Não obstante, escreveu Tertuliano que o “sangue dos mártires é a semente da igreja”. Quanto mais a igreja primitiva se viu perseguida, por conta do testemunho, mais ela crescia. A maior parte da igreja ocidental, ao contrário da igreja sofredora, que aqui chamarei de Esmirna (Ap 2.8-11), não tem sido perseguida fisicamente. Entretanto, e mais perigosamente, a maior perseguição que se instala atualmente se dá mediante o conformismo, a acomodação espiritual. E quando digo acomodação espiritual, ao contrário do que muitos imaginam, o Espírito se manifesta ou autentica sua manifestação, sempre, por meio de ação (Gn 1.2; Jo 3.8; At 2.1-45; 4.31 etc.).
Não se trata, evidentemente, do que atualmente é entendido como “mover do Espírito”; pelo contrário, em tais movimentos o que temos percebido é muito barulho e pouco resultado. Logo, não me equivoco nem blasfemo quando digo que grande parte desses “moveres” que assistimos no meio de várias denominações evangélicas, é majoritariamente carnal e não espiritual.
Quando estamos diante de um genuíno avivamento, a característica mais marcante é a mudança comportamental, a atitude que o acompanha. Isso é a mais evidente manifestação da “fragrância do conhecimento de Deus”. Entretanto, como reconhecer o cheiro do bom perfume de Cristo, que é a igreja? Trataremos desse tema, a seguir.
1) O Bom Perfume não se dissipa logo
Não sou especialista em perfumes. Mas algo que já me disseram e acredito ser razoável, é que a fragrância de um bom perfume não se esvai rapidamente. Deve o bom perfume permanecer.
Temos testemunhado um grande número de ajuntamentos evangélicos que, em grande parte, se autodenominam pentecostais. Nesses, grande número de espectadores dizem experimentar um “mover” diferente que lhes eleva a um estado de êxtase que lhes proporciona um prazer imediato inexplicável. Acompanham esses moveres as mais variadas unções: unção do “cair no Espírito”; unção do riso; unção de conquista etc. Ocorre que, conquanto os que participam de tais movimentos defendem que as sensações ali experimentadas, a maioria destes ao dispersar-se, não demonstra atitude convergente com o fruto do Espírito.
Já consignei na postagem relativa à “Análise do Encontro” algumas observações relativas a um desses moveres que, por um tempo, foi adotado por minha igreja. Poderia, sem exageros, afirmar que centenas de pessoas participaram dos Encontros realizados pelo ministério a qual pertenço, mas certamente contamos nos dedos os que se firmaram. Na grande maioria, só continuaram participando de nossa congregação os que já eram de lá.
Do mesmo modo, mormente, vejo as igrejas neopentecostais cheias, quase que o tempo todo. Mas a rotatividade de membros é o que mais nos assusta. Os movimentos são criados com a finalidade de chamar a atenção de inúmeras pessoas que, em sua grande maioria, por não serem convertidas ao verdadeiro evangelho, simplesmente, em pouco tempo, abandonam a congregação. Às vezes, ainda valem-se do título de cristãos evangélicos, mas passam um grande período andando de igreja em igreja e, quando não se identificam com nenhuma destas, dispersam-se voltando ao mundo do qual, na realidade, nunca saíram.
Pela rápida dispersão desses frequentadores das igrejas envolvidas com esses “movimentos” espirituais, pode-se perceber que o perfume tem se esvaído rapidamente. Logo, não se pode confiar na doutrina de tais igrejas como sendo em total acordo com a Palavra da Verdade.
Entretanto, para os que continuam freqüentando esses seguimentos evangélicos, observem que seu crescimento se dá muito mais no âmbito da arrogância e orgulho do que da humildade. Os consolidados regozijam-se por participarem na construção de grandes templos, mas fazem pouco ou nada em relação aos necessitados, em contraste ao que efetivamente ganham. Esnobem e exibem grandes carros com um adesivo “Deus é fiel”, uma conta bancária significativa, mas não vivem o amor com uma doação realmente considerável a obras de caridade. São arrogantes, presunçosos, orgulhosos e medrosos. Vivem com medo de olho grande, de inveja e qualquer urucubaca que lhes possa ser acometidas. Dependem, por isso, o tempo todo das mais variadas quebras de maldição; e não conseguem desfrutar prazer em Deus, unicamente. Há excêntrica necessidade do consumismo e do entretenimento para que mantenham sua auto-estima elevada. Esta é a radiografia mais comum do cristão “triunfalista” contemporâneo.
Porém, quando estamos diante de uma igreja revestida com o Espírito Santo, certamente haverá uma consistência nos membros que dela participam. Estes podem até ser em número menor, mas são mais expressivos quanto às questões espirituais. Serão, certamente, mais ativos quanto à prática do amor; mais fortalecidos em meio às lutas; mais pacientes quanto à fé; mais profundos e arraigados quanto à doutrina; mais humildes quanto à consciência da salvação; mais perseverantes quanto à oração; mais cônscios quanto aos dons espirituais; e mais unidos e preocupados uns com os outros. Isso é o mínimo que se deve esperar de uma congregação forte. O problema é que atualmente não temos encontra sequer uma congregação com essas características. Deveríamos, evidentemente, caminhar nesse sentido a fim de o aperfeiçoamento dos santos ser manifesto a todos.
2) Pela fragrância é possível dizer o nome do perfume
Todos já ouviram a expressão: “isso não me cheira bem”. Exato! Tal exclamação popular resume claramente o que se pretende abordar nesse próximo capítulo em relação ao reconhecimento do “bom perfume de Cristo”.
Pois bem, os judeus de Beréia foram elogiados pelo doutor Lucas em face de sua atitude em relação à pregação da Palavra da Verdade:
“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (At 17.10,11) [Ênfase adicionada]
Em suma, como aprendemos a discernir o cheiro do perfume de Cristo? Conhecendo a Sua Palavra. É nela que o conhecimento de Deus se manifesta. Logo, a fragrância do conhecimento de Deus tem que estar de acordo com a Sua Palavra. Assim eram os judeus de Beréia; após receberem a palavra, atestavam sua validade por meio do exame minucioso das Escrituras. Seguindo esse raciocínio, textos conhecidíssimos nos exortam:
“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” (Os 4.6)
A ignorância bíblica é a grande causadora dessa destruição de conceitos e declínio ético-moral vivido pelas igrejas evangélicas em nosso país, bem como em todo mundo ocidental que um dia ergueu, em estandarte, o título de cristão. Tudo isso somado a um sincretismo doutrinário faz com que a mensagem bíblica se misture ao veneno que o mundanismo apregoa como verdade. A consequência disso tudo é assassinato espiritual em massa. Tudo de mais vil e perverso decorre justamente desse desconhecimento generalizado ou mesmo da negação do conhecimento de Deus. Assim nos exortou o apóstolo Paulo em texto que eu, humildemente, rogo a cada um que leia e reflita com todo o temor e tremor diante de Deus:
“porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” (Rm 1.21-32) [Ênfases adicionadas]
O texto acima não tem revelado justamente o que assistimos em grande escala no contexto mundial? Inequivocamente, o grande segredo da vitória do cristão nascido de novo, neste mundo fétido, em avançado estado de putrefação, é conhecer o aroma do perfume do Senhor; a fragrância de Seu conhecimento. O profeta Oséias, mais uma vez nos exorta:
“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” (Os 6.3)
Amados no Senhor: meditem na Palavra dia e noite (Sl 1.1-6)! Não se deixem ser enganados! As mentiras e engodos multiplicam-se exponencialmente em nossos dias. Logo, estar bem preparado para a batalha espiritual que circunda nossas vidas é questão de vida eterna ou morte eterna, como já li de um piedoso escritor. (Ef 6.10-18).
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