CAPÍTULO 2 - As árvores e os frutos
Por toda a Palavra da Verdade, percebemos menção explícita às boas obras manifestas por intermédio da graça de Deus. Nos evangelhos, Jesus, por analogia, utiliza o termo “frutos”. É assim, por exemplo, que Ele discursa, conforme registrado no evangelho segundo escreveu Mateus:
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mt 7.15-20)[Ênfase adicionada]
Nesse texto fica evidenciada a importância das boas obras como manifestação do caráter e da fé individual. Não é o objetivo aqui, ainda, falar acerca dos falsos profetas. Mas a analogia descrita pelo Mestre é suficiente para clarear e fundamentar a opinião exposta no presente trabalho. Ora, observa-se que a natureza dos frutos (obras) está completamente vinculada à natureza das árvores (pessoa que as pratica).
Em relação à natureza das árvores, Paulo clareia nosso entendimento na carta escrita aos Romanos, informando que todos nós somos, originalmente por conta do pecado do primeiro Adão, por natureza pecadores (Rm 5.12-21; 7.14-19; 3.23). Ora, em Cristo, nascemos de novo e recebemos com isso uma nova natureza (Jo 3.3-8). Essa nova natureza vincula-se e depende do nosso Senhor Jesus, pois Ele é a videira verdadeira e nós somos os ramos, como bem registrou o apóstolo João (Jo 15.1-8). Neste texto, a que se fez referência, percebemos que as obras glorificam ao Pai (v. 8), e determinam a posição de discípulo, ou não, do Mestre Jesus. De mesmo modo, os frutos não são gerados por causa dos ramos, mas por causa da raiz, sendo totalmente dependentes desta. Logo, não há como nos gloriarmos, sendo apenas ramos que, uma vez cortados, só servem para o fogo. Nenhuma dessas obras, ou frutos, nasce de nós, mas parte do Senhor Jesus tendo a cada um de nós somente como instrumentos (Jo 15.5).
Paulo, em analogia semelhante, diz que alguns dos ramos naturais (judeus) da Oliveira (Cristo) foram quebrados, de sorte que no lugar destes foram enxertados ramos do zambujeiro (nós, os gentios), tornando-os, pois, participantes de Sua raiz e seiva (Rm 11.16,17). É evidente que, uma vez enxertados em Cristo, somos capacitados a frutificar no Espírito (Gl 5.22). Acerca da possibilidade de gloriar-se por termos sido enxertados no lugar dos ramos naturais (judeus), Paulo nos traz a seguinte exortação:
“Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.” (Rm 11.18-22)
Impressiona como a doutrina bíblica é perfeita e se completa, sem contradizer-se em um único ponto, enquanto é exposta nas Escrituras Sagradas. Aqui, por exemplo, vemos total coerência com a carta paulina dirigida aos crentes de Éfeso, conforme já citado, em que fica claro que a salvação é dom de Deus e não vem de obras para que ninguém se glorie (Ef 2.8,9). Se há, pois, manifestação de boas obras por meio do servo de Deus, isso é consequência imediata e necessária de sua ligação à raiz, que é Cristo. Fora dEle, não podemos absolutamente nada (Jo 15.5). Aliás, quaisquer manifestações de boas obras ou justiças sem ligação direta em Jesus Cristo, não têm valor algum, já sendo totalmente contaminadas por nossa natureza. Assim se manifesta o Senhor por meio do profeta Isaías:
“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” (Is 64.6) [Ênfase adicionada]
Não há sequer valor em quaisquer obras de justiça que sejam feitas distante do Senhor. Para uma aprimorada compreensão desse texto, há que se relevar que a expressão “trapo de imundícia” refere-se ao absorvente feminino comumente utilizado naquela época, que era um pedaço de tecido. Desse modo, após utilizado, este absorvente tinha mais algum proveito? Não! Servia apenas para conter a hemorragia proveniente do tempo de impureza da mulher e, pasmem, a imundícia foi comparada a nós. Conclui-se, portanto, que as boas obras ou justiças praticadas fora de Cristo, só servem para maquiar, para esconder a iniquidade que participa de nossa natureza pecaminosa (somos como o imundo).
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