Só-CIAis
Estar só
É viver a turba sem acalento;
É experimentar o gosto do desgosto;
É sentir a dor do amor arder no peito
Como lança que traspassa sem piedade.
É gritar no silêncio da alma,
E ouvir ecoar o que realmente sou.
É chorar o choro do nascituro
Que sente a dor de ser abortado,
Grita em silêncio e com pavor,
Na desesperança de ser ouvido,
Na desesperança de ser socorrido.
Estar só
É dançar a nostálgica música
Que a memória compôs
Em dissonante harmonia,
Executada em concerto bem lento
Pela orquestra da lembrança,
Sob a regência da saudade.
Estar só
É sofrer com o desejo de estar junto,
Em companhia da distância,
Enquanto viaja na locomotiva da separação,
Contemplando a paisagem vazia
Que corre pela janela, em anúncio
De que se aproxima outra estação;
Seguindo o curso nos trilhos da sina,
Em destino à surpreendente cidade,
Cujo nome é Imprevisão.
Estar só
É contar o tempo;
É sofrer com o vento;
É olhar pra dentro;
É perder o contento;
É morrer bem lento.
Estar só
É sentir a presença do nada;
É ouvir as mudas vozes do nada;
É olhar para o nada;
É pensar em tudo:
Vida, morte, mundo;
Sem compreender, contudo.
Estar só
É morrer em vida
E viver sem vida, como defunto:
É estar longe, mesmo junto.
A solidão
É a sombra própria no deserto:
Não alivia o ardente sol, mas está ali,
Alimentada pelo dissabor dos impetuosos raios,
Insiste em perseguir;
Não adianta fugir.
A solidão
É presente companheira:
Na escuridão da ignorância,
Na claridade da razão ela está.
Faz parte de nós:
Somos sós, mesmo quando sociais.
A solidão
É a escolha de alguns;
É consciência para alguns;
E, n’algum momento, inevitável para todos.
Jordanny Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário