sábado, 22 de janeiro de 2011

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - parte 4

Só-CIAis


Estar só

É viver a turba sem acalento;

É experimentar o gosto do desgosto;

É sentir a dor do amor arder no peito

Como lança que traspassa sem piedade.

É gritar no silêncio da alma,

E ouvir ecoar o que realmente sou.

É chorar o choro do nascituro

Que sente a dor de ser abortado,

Grita em silêncio e com pavor,

Na desesperança de ser ouvido,

Na desesperança de ser socorrido.

Estar só

É dançar a nostálgica música

Que a memória compôs

Em dissonante harmonia,

Executada em concerto bem lento

Pela orquestra da lembrança,

Sob a regência da saudade.

Estar só

É sofrer com o desejo de estar junto,

Em companhia da distância,

Enquanto viaja na locomotiva da separação,

Contemplando a paisagem vazia

Que corre pela janela, em anúncio

De que se aproxima outra estação;

Seguindo o curso nos trilhos da sina,

Em destino à surpreendente cidade,

Cujo nome é Imprevisão.

Estar só

É contar o tempo;

É sofrer com o vento;

É olhar pra dentro;

É perder o contento;

É morrer bem lento.

Estar só

É sentir a presença do nada;

É ouvir as mudas vozes do nada;

É olhar para o nada;

É pensar em tudo:

Vida, morte, mundo;

Sem compreender, contudo.

Estar só

É morrer em vida

E viver sem vida, como defunto:

É estar longe, mesmo junto.

A solidão

É a sombra própria no deserto:

Não alivia o ardente sol, mas está ali,

Alimentada pelo dissabor dos impetuosos raios,

Insiste em perseguir;

Não adianta fugir.

A solidão

É presente companheira:

Na escuridão da ignorância,

Na claridade da razão ela está.

Faz parte de nós:

Somos sós, mesmo quando sociais.

A solidão

É a escolha de alguns;

É consciência para alguns;

E, n’algum momento, inevitável para todos.

Jordanny Silva

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