segunda-feira, 13 de abril de 2009

Vida abundante: o refrigério para a alma - Parte 2


Para ler a introdução ao tema clique AQUI!
A sabedoria humana ou a Sabedoria de Deus?


Antes de iniciar a seqüência de estudos que versam sobre o tema aqui proposto, gostaria que você se dedicasse à leitura e reflexão do texto "A morte decretada pela vida", abaixo consignado. Trata-se de um exemplo do homem que tem como fundamento a sabedoria humana. Raciocine um pouco em cima da "loucura" vivenciada por este personagem fictício e conclua, consigo mesmo, se a filosofia do homem realmente é valiosa e conduz à felicidade.


"A morte decretada pela vida"


- A vida não deixa de ser incrível apesar da forma que se apresenta para cada um de nós - pensava ele tentando se convencer disso. Mas parecia estar distante de como realmente se apresentava a vida perante os seus olhos. Ora, não era ele belo para os padrões ditados por uma minoria que dominava e manipulava o entendimento da maioria. Não era esperto para os mesmos padrões, tampouco, simpático; muito menos atraente. Sentia-se à margem. Não conseguia conexão com as outras pessoas. Não se via alienado, mas se sentia alienígena. De que adiantou todo o conhecimento que buscara? O saber aparentava-se mais a um dedo que é colocado diretamente em sua ferida. O saber o incomodava. O saber o entristecia. Ele não se utilizava do saber para criticar as coisas ou pessoas; achava mais sustentação na análise sugestiva – a crítica é sagaz e destruidora, já a análise enfoca também o problema e a sugestão aponta uma possibilidade de melhoria. E assim vivia, de observar e analisar tudo que estava a sua volta; de sofrer com a maldade que se erguia diante dos seus olhos; de chorar com o acaso e viver as conseqüências daquilo que é inevitável; de conviver com a solidão. Confronto era a natureza de sua alma. Desespero era seu estado constante. Enlouquecia a cada dia mais. Havia muito mais para se conhecer, e quanto mais crescia em saber mais se afastava da felicidade. Aliás, o que seria felicidade? É o primeiro questionamento que se deve responder para depois partir a sua procura. Percebia, ele, que tudo que se toca, tudo que se cheira, tudo que se saboreia, tudo que se ouve, tudo que se vê, de fato, é injustiça. Mas continuava no torturante caminho do saber; continuava na sofrida jornada da vida...

Mas, o que há de mais atrativo na vida não seria a imprevisão? Não ter o controle do futuro e nem conhecê-lo era, ao mesmo tempo, angustiante e instigante. Contudo, todos os dias aparentavam-se iguais. Sufocado pela monotonia. Afogado no sedentarismo e no descontentamento. Nada se apresentava de novo. Era tudo sempre a mesma coisa: infelicidade. Ele sentia como se estivesse andando em círculos. Então, por que continuar na caminhada da vida? Aquela angústia poderia cessar ali. Ele tinha o poder de dar um fim em tudo. Ora, o livre arbítrio parece ser o maior dom, mas também o maior castigo dado ao homem. Apesar de se conceber que o livre arbítrio não é tão livre quanto parece. Não obstante, todas as suas escolhas aparentemente eram viciadas. Determinadas pela impetuosa lei da ação e reação. O que ele fazia advinha de algo que lhe foi feito. Desse modo, mesmo a decisão de deixar a vida lhe aparentava ser uma afronta a sua liberdade de escolha. Se pudesse realmente escolher, construiria um novo mundo que pudesse lhe fazer feliz. Contudo, seu poder estava distante disso. Primeiramente, por não saber o que realmente seria a felicidade. Segundo, por estar diante de sua impotente insignificância. Tinha, portanto, uma pouca gama de poder, mas que lhe parecia estar sobrecarregada pelo fardo da responsabilidade. Mas uma decisão tinha que ser tomada. Seria a hora de dar um basta?

A morte lhe era, ao mesmo tempo, repugnante e atraente. Na verdade muito se aproximava da sua idéia de vida. A morte era incompreensível ou, pelo menos, incompreendida. Era assustadora, mas se revelava como uma espécie de saída. Atingia diretamente o seu entendimento acerca do fim. Entretanto, ele notava que cada vez menos compreendia o que seria o fim. Ao mesmo tempo a morte, para sua razão, aparentava ser uma parte da vida. Sendo então, a morte, um dos elementos da vida, a vida não poderia subsistir sem a morte? Quando se come carne, por exemplo, ali não se está diante da morte de um animal irracional? E a alimentação não existe para permitir a continuidade da vida? Logo, dependeria a vida da morte? A vida, a morte, o fim: tudo isso lhe intrigava; tudo isso lhe irritava. – Quer saber? – pensava ele – devo experimentá-la. Ao menos minha dúvida será sanada. Ou, então, serei lançado na escuridão da inconsciência. Já distante das angústias. Já distante das tristezas. Mas também distante de encontrar a felicidade – Contudo, mesmo o fato de ser abandonado pela consciência e de se lançar no nada, inquietava-lhe; afligia-lhe. Novamente se via diante de uma situação desesperadora. Em uma coisa acreditava intensamente: o destino da vida é a morte. Não obstante, todos os que vivem caminham em direção à morte. Logo, por que não chegar ao objetivo último, e depressa? Se a finalidade da vida é realmente a morte, seria esta última a resposta às incógnitas daquela?

Uma decisão normalmente é baseada em um juízo de valor. Pelo menos assim é feito pelos que se acham sensatos. Ao decidir, o bem e o mal são colocados em uma espécie de balança. Isso, aparentemente torna mais fácil o processo de escolha. Ora, o homem se vê, quase sempre, obrigado a optar pelo bem ou, pelo menos, pelo que lhe é, aparentemente, melhor. Entretanto, e se nem todo o bem e nem todo o mal estiver ao alcance das mãos, ou dos sentidos, a fim de serem inseridos nessa gangorra? Significa que a decisão é mal tomada? E como alcançar uma plena convicção de que todos os prós e os contras foram devidamente pesados? Não é o homem, já de plano, limitado por sentidos que o aprisionam e o afastam da essência da verdade? Seria mais fácil então conceber-se que toda verdade é relativa? Logo, estaríamos “Além do bem e do mal”. Porém, não é tão fácil assim. E a escolha novamente se revela o maior desafio do homem. Por isso há que se afirmar, novamente, que o mais intenso castigo do homem é o livre arbítrio, ainda que este não seja tão livre. Naquele instante, mesmo diante dos riscos, instrumentou-se com a técnica do “juízo de valor”, e iniciou-se nas medidas. Pesava os prós e os contras da vida. Pesava os prós e os contras da morte. Depois em uma única balança: de um lado a vida; do outro a morte; depositadas todas as conclusões, notou que estavam completamente iguais. Não se pendia nem para um lado nem para o outro. Isso, aparentemente, facilitava sua escolha: qualquer uma das opções é boa!... Ou ruim! Ora, havia na vida algo desafiador: a imprevisão. Mas o havia também na morte: o desconhecido. Não é a imprevisão e o desconhecido a mesma coisa? O óbvio lhe enganava por intermédio da aparência respondendo positivamente à indagação. Entretanto, a razão lhe remetia a pensar nas peculiaridades contidas em cada uma daquelas palavras: a imprevisão pode estar repleta de fatos já conhecidos, mas inesperados; porém, existe, nela, a possibilidade de estar presente o desconhecido. Diante disso, a vida seria a melhor escolha. Mas, o ponto de partida para se cogitar a morte foi a mesmice em que sua vida se encontrava. Tudo era sempre igual e conhecido. O desconhecido, apesar de paradoxal à presente narração, revelava-se distante da vida. Em contrapartida via-se, o incógnito, presente na morte. Então, decidiu pelo caminho da morte. Ora, apesar de desconfortante, era desafiador! Não era uma questão de coragem ou covardia. Era, em sua concepção, tão somente, acelerar o inevitável. A propósito, se o sentido da vida estivesse na morte, seu caminho seria percorrido por completo. O que lhe confortava, logo, era uma sensação de “missão cumprida”.

Novamente se via diante de uma situação de escolha. Por que a escolha foi colocada como uma sombra que acompanha o homem em toda a sua vida? A escolha era um espinho na carne. Era um sinal de que a sua consciência deveria ser respeitada, mesmo que esta fosse falha. Mas, enfim, a grande questão que se levantava era: como fazer? Como escolher o modo de deixar a vida? Ora, pode aparentar-se tola esta questão, mas, quando se percebe que grandes sensações estão em jogo, o quadro se reverte por completo. A dor, por exemplo, é algo que se deve relevar. Se a morte é dolorosa, pode, então, não se revelar a melhor saída para vida. A não ser que se aproveite a experiência conquistada com a sensação da dor a fim de acrescentá-la ao conhecimento. Mas de que valerá o conhecimento após a morte, se existe a possibilidade de ser-se inserido na eterna escuridão, na ausência do pensamento? Desse modo, lhe parecia mais interessante uma morte pouco dolorosa. Afinal, era por conta das dores que sofria em seu íntimo, em vida, que ele optou pela morte. Passou então à escolha. Levantou diversas formas, variados instrumentos, e muitas hipóteses de como daria cabo de sua vida. Era deprimente pensar em seu fim. Queria por muitas vezes desistir da decisão de morrer. Mas lembrava que já havia passado por um fatigante processo que o levou para esta opção. Desse modo, via-se determinado a fazê-lo.

Um instrumento é algo que desperta interesse enquanto este se apresenta necessário e útil. A necessidade baseia-se na imprescindibilidade, ou seja: sem aquele elemento não há como se chegar ao objetivo desejado. Já a utilidade relaciona-se com a precisão; com a eficiência do objeto. Também está ligada à idéia de conforto. Ora, pensar na morte já era desconfortante. Logo, era importante buscar um instrumento que gerasse mais alívio no ato de tirar a própria vida. Onde e como encontrar um instrumento útil e necessário? Uma arma de fogo lhe veio à mente como sendo o objeto perfeito, quando relacionado à minoração da dor. Contudo, é muito horripilante, e até nojento, o estrago que deixa no lugar onde é acionada. Por conseguinte, lembrou-se da morte de alguns personagens históricos. Logo, pensou: - A morte, advinda de um suicídio, deveria ser poética. Apenas tirar a vida e deixar as sujeiras físicas para serem recolhidas lhe parecia deselegante. Ora, um dos personagens que ele mais admirava foi condenado à morte e de posse do dever de seguir as instruções da “Res” pública que tanto defendeu, valeu-se da cicuta para adentrar no eterno inconsciente. De mesmo modo, mesmo que fictamente, a obra shakespeareana, apresenta uma morte poética, adocicada com amor, instinto e paixão. O suicídio, mesmo que advindo de um lamentável engano do jovem Romeu e, em seguida, da bela Julieta, foi admirado e aplaudido por muitos. Porém, o que ele entendia acerca do amor? Para ele era o amor a presença inconseqüente da irracionalidade, ou até mesmo da insanidade; uma loucura sem precedentes que levava o homem a reagir fora dos padrões normais. Mesmo sendo favorável ao portar-se fora da normalidade (aliás, sentia-se um alienígena inserido e isolado no meio da humanidade), criticava o amor como sendo um comportamento antinatural, porém (e até ironicamente) recebido com naturalidade pelo homem. Por isso, o amor estava além da razão e da sanidade. Entretanto, já não confiando e não conhecendo o amor, como ter sensibilidade para buscar uma morte poética? Pensava ele incessantemente. Decidiu, então, envenenar-se tal como o mestre Sócrates. Sócrates, contudo, foi condenado à morte. Teoricamente não era um suicídio. A cicuta era a sua pena. E, apesar de a morte ser a mais ultrajante condenação prolatada a um homem, para Sócrates, aceitar este destino era menos doloroso, e mais honroso, que suportar o fardo que viria a carregar caso opta-se pela sua fuga. Nisso, talvez, ele encontrava semelhança com o filósofo condenado. A vida lhe havia colocado no lugar da República. Ele (o personagem desta história), por sua vez, sempre defendeu a vida veementemente. Por isso, por sua luta pela vida, via-se isolado, entristecido e castigado. Não obstante, a própria vida lhe empurrou o destino da morte. A vida, que ele tanto admirava, prolatou a sentença. A cicuta, para ele, então, revelava-se como um dever, uma sanção inevitável e corroborada pelos seus princípios.


Alguns dias mais tarde já havia, ele, preparado a dose correta, letal. Já é desconfortante a sensação de despedida. Quando, então, há consciência de que não haverá mais volta, a dor se multiplica imensuravelmente. Mas queria ele, deixar algo registrado antes de partir. Olhou para o frasco que continha o líquido mortal, e recordou-se das feridas que havia em seu interior. Lágrimas escorriam em seu rosto. O gosto salgado alcançou seu paladar. Um choro sufocado durante anos de repente brotou como uma represa que rompe. Não se conteve, caiu ao chão prostrado. Suas angústias eram reveladas pelo o estado deplorável em que se encontrava. De que adiantou todo o seu saber? Uma vida vã, desperdiçada com coisas banais e fúteis. Percebia, naquele instante, o quão inútil era todo o conhecimento que adquirira. Lembrava-se dos seus erros. Recordava as oportunidades que havia perdido. Arrependia-se por não ter dado importância ao que verdadeiramente era importante. Tomou em suas mãos o frasco e o abriu. Aquela dor, aquela aflição acabaria ali. Ingeriu até a última gota e aguardou o efeito. Em instantes já se via desfalecendo. A dor física, logo em seguida, tomou-lhe intensamente. O frio, a sede e o desespero de não encontrar ar suficiente para que enchesse seus pulmões. Aqueles minutos eternizaram-se. Segurou com força um pedaço de papel que continha seus últimos ditos e o amassou com uma força inexplicável. Seu corpo não queria morrer. Seu espírito também não. A sua fome por vida, paradoxalmente, lhe conduziu para a morte. Em seguida sentiu-se adentrando nas trevas do inconsciente. Seu fim fora realmente decretado?


Neste momento, gostaria de perguntar: qual a sua conclusão inicial acerca da sabedoria humana?


Não deixe de acompanhar as ministrações seguintes!


Jordanny Silva

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