segunda-feira, 16 de abril de 2012

Aforismos e poesias: lúcidos devaneios - Parte 15




Lágrimas

Contradiz-se o que sinto,
De lacunas me preencho,
É quando as lágrimas cobrem
Vãos, vazios.
Rubra face umedecida
Que aos sussurros algo dita,
E os ouve o coração atento.
Mas há essência surda,
Que é também coração morto
Ou estrangeiro da emoção:
Ao alarido que dos olhos
Salta aguado e regando,
Não entende a linguagem,
Não decifra sua razão.
Tal surdez tem alto preço,
Pois nela o amor se faz incompreensível
E onde o amor é inexperimentável.
E se as lágrimas não expressam verdade,
E aos intentos mais profundos ocultam,
Neste oculto se revela
A alma miserável,
Que, se ganha o que deseja,
Vê perdido o que precisa,
E, insensível, nem percebe.
Já nas lágrimas sinceras
Muito há que se ler e ver e sentir:
Lê-se amor-canto em poesia;
Veem-se teias-esperança,
Quais tecidas são prisões
De saudade, que é nó forte;
Na emoção do reencontro,
Pintam a tela da alegria,
Temperando a alma insípida,
Colorindo a solidão;
Emudecem o eloquente
E ao sabido fazem tolo;
A memória ganha vida
E se faz dramaturgia;
Tornam o canto de ninar
Nas mais belas sinfonias.
Sim, são frágeis e singelas!
Sim, são ricas e são nobres!
Sim, são meigas e são fortes!
Sim, são caras e gratuitas!
Pois são simples e simplesmente,
Lágrimas...





Para reflexão: "O choro pode durar uma noite, mas alegria vem pela manhã". Salmos 30.5b


Gama – DF, 22 de março de 2012.