sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 5






CAPÍTULO 3 - O fruto do Espírito



“Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. (...) Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” (Gl 5.16, 22, 23) [Ênfase adicionada]



Como dito anteriormente, o termo “obras” alcança seu equivalente em “frutos”. Percebe-se também que quaisquer boas obras ou frutos que se manifestem em nossas vidas não são essencialmente de nossa autoria, mas de Deus. Ele as “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).



Observando o texto bíblico citado no preâmbulo deste tópico, percebemos a colocação verbal imperativa: “Andai”! Percebe-se, evidentemente, que as boas obras representam um caminho a ser percorrido pelo salvo em Cristo Jesus. Paulo, quando trata do amor, que é apresentado no texto acima como a primeira característica da obra do Espírito, o chama de “um caminho mais excelente” (1Co 12.31b). Tudo isso serve para reforçar que as boas obras não nascem do homem regenerado (Jo 3.8). São, porém, necessárias ao passo que indicam, incontestavelmente, se estamos diante de um salvo ou não! Jesus Cristo trata disso quando nos informa que “a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más”.



Sendo, pois, evidenciado que as obras são tratadas como um caminho, o cristão que julga ser salvo, mas não avança nesse caminho, tem negado a própria essência da fé. A exortação de Tiago quanto a crer, mas não exercitar, por meio das boas obras o que se crê, nos faz analisar toda a questão com temor e tremor:



“Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.” (Tg 2.18,19). [Ênfase adicionada]



Ora, não há como olvidar correlação mais assustadora quanto à desculpa de uma fé inoperante e inativa, quando o crente, que somente crê, é comparado aos demônios que “crêem, e estremecem”.



Compreendendo-se que as boas obras são um caminho a ser percorrido, deve-se alvejar entender as características desse caminho para que possamos cursá-lo com total certeza.



Nos tempos da Lei dada por Deus a Moisés, é apresentado ao povo de Israel, também, um caminho sob o qual as bênçãos do Senhor seriam manifestas àqueles que perseverassem. No capítulo 28 de Deuteronômio, nos primeiros 14 versos, estão consignadas as bênçãos advindas, condicionalmente, da observância à Lei do Senhor. Nos demais 54 versos (vv. 15-68), vemos uma lista quase que infindável de maldições manifestas por causa da desobediência. O fato é que, conforme o apóstolo Paulo nos informa, todos nós desobedecemos à Lei. Ou seja, todos nós estamos, naturalmente, fadados aos castigos e maldições ali mencionados. Algum pode até argumentar que nunca desobedeceu a todos os pontos da Lei, visto que nunca cometeu, por exemplo, homicídio ou adultério. Entretanto, Tiago nos exorta que, se falharmos em apenas um ponto da Lei, falhamos contra toda esta (Tg 2.10). Algum humano se habilitaria a dizer que nunca tropeçou em algum ponto da Lei?



O apóstolo João, em sua primeira epístola, consigna preciosa exortação, quando nos diz que qualquer um que afirma não ter pecado já é mentiroso (1Jo 1.8). Na mesma carta, vemos João, por direção do Espírito Santo, nos informar que o próprio ato, tido como simples, de se aborrecer ao nosso irmão é imputado como homicídio (1Jo 3.15). Consequentemente, não há como qualquer humano imaginar-se cumpridor da Lei. Somos todos dignos de condenação.



A Lei do Senhor, dada a Seu povo por meio de Moisés, impinge uma série de “nãos”. Uma citação rápida do decálogo aponta que este se caracteriza por exaustiva proibição: “não terás outros deuses...”; “não farás para ti imagem de escultura...”; “não te encurvarás a elas e nem a servirás”; “não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”; “não farás nem uma obra [no sábado]...”; “não matarás”; “não adulterarás”; “não furtarás”; “não dirás falso testemunho...”; “não cobiçarás...” (Ex 20.1-17).



No mesmo sentido, a lista inconclusa apresentada por Paulo na epístola dirigida às igrejas da Galácia, aponta uma sequência de proibições:



“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” (Gl 5.19-21) [Ênfase adicionada]



Esta é mais uma lista de “nãos”. A grande pergunta que surge e que é respondida no próprio texto é: como eu consigo evitar todas as obras da carne? Ficando estagnado, parado para que não cometa pecado? Não! Pelo contrário, é caminhando, andando segundo o Espírito. Em outras palavras, você cumpre os “nãos” praticando os “sins”. O texto inicial deste capítulo aponta para isso: “Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne”. E o que é andar em Espírito? É justamente praticar as boas obras que caracterizam o fruto do Espírito. É andar em “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”. Em relação a essa lista que é bem menor, não existem obstruções e nem “nãos”, somente “sins”.



Vejo diariamente diversos cristãos em uma luta extraordinária para vencer as obras da carne. Ficam paradas, inertes, acreditando que assim não vão pecar. O mais ascético de todos os eremitas, no inabitável ermo, comendo, quem sabe a exemplo de João Batista, somente gafanhoto e mel silvestre, não se vê livre das obras da carne se não andar em Espírito. E sozinho, sem a possibilidade de viver o amor prático, é bem provável que nunca andará em Espírito. Crescerá talvez em meditação e em oração. Mas perderá o vínculo da finalidade precípua para a qual fomos criados em Cristo: as boas obras.



É caminhando segundo as boas obras que evitamos, em proporção cada vez maior, as más obras. Deixando de nos preocupar com os “nãos” e assumindo o compromisso, em amor, dos “sins”, certamente galgaremos o “caminho mais excelente”.



Em relação a isso, Paulo nos exorta:



“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor.” (Rm 13.8-10) [Ênfases adicionadas]



Não existem deveres e proibições em dissonância com o amor. É justamente no amor, que representa o ápice dos “sins” é que alcançamos um resumo de toda a lei. Esta é cumprida, necessariamente, no amor. No mesmo sentido Jesus Cristo doutrina:



“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lc 10.25-28) [Ênfases adicionadas]



Há, pois, como dissociar as boas obras da fé? E há como dissociar a fé da salvação? Fé inoperante, inativa não tem poder contra o pecado. Fé inoperante não tem poder contra a carne. A fé, necessariamente, deve caminhar. E em seu caminho não há obstruções; não há lei! Pois seu caminho é totalmente inverso ao caminho largo, por onde passam os que praticam as obras da carne (Mt 7.13). O fruto do Espírito não é o mais fácil caminho; mas é onde trafegam os verdadeiramente livres! (Jo 14.6; 8.32).

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 4









CAPÍTULO 2 - As árvores e os frutos




Por toda a Palavra da Verdade, percebemos menção explícita às boas obras manifestas por intermédio da graça de Deus. Nos evangelhos, Jesus, por analogia, utiliza o termo “frutos”. É assim, por exemplo, que Ele discursa, conforme registrado no evangelho segundo escreveu Mateus:




“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mt 7.15-20)[Ênfase adicionada]




Nesse texto fica evidenciada a importância das boas obras como manifestação do caráter e da fé individual. Não é o objetivo aqui, ainda, falar acerca dos falsos profetas. Mas a analogia descrita pelo Mestre é suficiente para clarear e fundamentar a opinião exposta no presente trabalho. Ora, observa-se que a natureza dos frutos (obras) está completamente vinculada à natureza das árvores (pessoa que as pratica).




Em relação à natureza das árvores, Paulo clareia nosso entendimento na carta escrita aos Romanos, informando que todos nós somos, originalmente por conta do pecado do primeiro Adão, por natureza pecadores (Rm 5.12-21; 7.14-19; 3.23). Ora, em Cristo, nascemos de novo e recebemos com isso uma nova natureza (Jo 3.3-8). Essa nova natureza vincula-se e depende do nosso Senhor Jesus, pois Ele é a videira verdadeira e nós somos os ramos, como bem registrou o apóstolo João (Jo 15.1-8). Neste texto, a que se fez referência, percebemos que as obras glorificam ao Pai (v. 8), e determinam a posição de discípulo, ou não, do Mestre Jesus. De mesmo modo, os frutos não são gerados por causa dos ramos, mas por causa da raiz, sendo totalmente dependentes desta. Logo, não há como nos gloriarmos, sendo apenas ramos que, uma vez cortados, só servem para o fogo. Nenhuma dessas obras, ou frutos, nasce de nós, mas parte do Senhor Jesus tendo a cada um de nós somente como instrumentos (Jo 15.5).




Paulo, em analogia semelhante, diz que alguns dos ramos naturais (judeus) da Oliveira (Cristo) foram quebrados, de sorte que no lugar destes foram enxertados ramos do zambujeiro (nós, os gentios), tornando-os, pois, participantes de Sua raiz e seiva (Rm 11.16,17). É evidente que, uma vez enxertados em Cristo, somos capacitados a frutificar no Espírito (Gl 5.22). Acerca da possibilidade de gloriar-se por termos sido enxertados no lugar dos ramos naturais (judeus), Paulo nos traz a seguinte exortação:




“Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.” (Rm 11.18-22)






Impressiona como a doutrina bíblica é perfeita e se completa, sem contradizer-se em um único ponto, enquanto é exposta nas Escrituras Sagradas. Aqui, por exemplo, vemos total coerência com a carta paulina dirigida aos crentes de Éfeso, conforme já citado, em que fica claro que a salvação é dom de Deus e não vem de obras para que ninguém se glorie (Ef 2.8,9). Se há, pois, manifestação de boas obras por meio do servo de Deus, isso é consequência imediata e necessária de sua ligação à raiz, que é Cristo. Fora dEle, não podemos absolutamente nada (Jo 15.5). Aliás, quaisquer manifestações de boas obras ou justiças sem ligação direta em Jesus Cristo, não têm valor algum, já sendo totalmente contaminadas por nossa natureza. Assim se manifesta o Senhor por meio do profeta Isaías:




“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” (Is 64.6) [Ênfase adicionada]




Não há sequer valor em quaisquer obras de justiça que sejam feitas distante do Senhor. Para uma aprimorada compreensão desse texto, há que se relevar que a expressão “trapo de imundícia” refere-se ao absorvente feminino comumente utilizado naquela época, que era um pedaço de tecido. Desse modo, após utilizado, este absorvente tinha mais algum proveito? Não! Servia apenas para conter a hemorragia proveniente do tempo de impureza da mulher e, pasmem, a imundícia foi comparada a nós. Conclui-se, portanto, que as boas obras ou justiças praticadas fora de Cristo, só servem para maquiar, para esconder a iniquidade que participa de nossa natureza pecaminosa (somos como o imundo).



domingo, 18 de dezembro de 2011

A Vitória que Vence o Mundo - Parte 3






CAPÍTULO 1 - Fé e Obras




A fé é requisito essencial à justificação e consequente salvação do homem (Rm 5.1,2; Ef 2.8-10). Quando falamos da lei, na forma do Velho Testamento, é evidente que a fé para a justificação se opera independente de suas obras. Porém, reitero: a fé que justifica o homem não se submete às obras da lei (Rm 3.20; 4.1-25). Isso não significa dizer que a fé se desvincula das obras manifestas por intermédio da graça de Deus. Segundo a doutrina bíblica das dispensações, vivemos hoje a “dispensação da graça de Deus” (Ef 3.2-6). Ocasião que nasce sob o ministério de Cristo na Terra, com sua morte e ressurreição na Cruz do calvário.




Logo, mediante a fé, surgem deveres arraigados e edificados no amor (Rm 13.8; Gl 3.12-14). É evidente que nós não somos salvos por conta das boas obras ou, como poderia colocar, do testemunho que manifestamos. Mas somos salvos para as boas obras e para o testemunho. Nesse sentido se manifestou o doutor dos gentios:







“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.8-10) [Ênfase adicionada]




Nesse texto, a doutrina de Paulo manifesta total coerência com a doutrina de Tiago, irmão de Jesus, quanto às obras. Veja que a nossa criação em Cristo (v. 10) manifesta uma finalidade que participa de modo indissociável da fé e da consequente salvação. Fomos, sim, criados em Cristo para as boas obras. Esse texto não revela outra finalidade. É evidente que, implicitamente, percebe-se nesse texto a Glória de Deus como finalidade da salvação do crente. Assim, as boas obras glorificam a Deus e não a nós mesmos. Por isso, não somos salvos pelas obras – “para que ninguém se glorie” –, mas para as boas obras, que glorificam a Deus.




As obras, portanto, apesar de não ser o motivo da salvação do homem, revelam-se essenciais, não podendo ser subtraídas do conceito bíblico de salvação em toda a sua abrangência. Nesse sentido, o apóstolo Tiago se manifesta:




“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tg 2.14-18) [Ênfase adicionada]




Nesse texto, percebemos que a manifestação de poder inerente à fé se dá de modo exclusivo por meio das obras. Assim, as obras é que autenticam o selo da salvação do homem. É a evidência clara e inequívoca de que aquele homem foi justificado pela Graça de Deus.




Ainda, em conclusão a este texto, Tiago traz a analogia do corpo sem o espírito, demonstrando que a fé sem obras vegeta, é inativa: é morta (Tg 2.26).




Contrastando as afirmações de Paulo com as de Tiago, o ledor desatento poderia afirmar que os dois entram em evidente contradição. Entretanto, e devo reiterar, quando o apóstolo Paulo diz que a fé é que justifica e não as obras, estava sendo específico quanto às obras da lei. Estas, como dito anteriormente, não se confundem com as obras manifestas por intermédio da graça.