quinta-feira, 24 de março de 2022

O Adeus dos Vivos


O Adeus dos Vivos

Ouço as vozes, os gritos, os sons do silêncio
enquanto tuas últimas palavras ecoam,
vão e vêm.
Porém ninguém mais as ouve...
Chocam-se às rochosas paredes
que se ergueram em meu ser,
e soam outra vez, e outra vez, e outra vez...
Mas rochas se abalam, e tremem,
e fendem-se, e se despedaçam.
Disseste-me adeus, o pior adeus:
o adeus dos vivos,
que fere como a morte;
e que zumbifica aquele que,
por ele, queda ferido...
Contudo, caminho vivo,
e morto, sorrindo o choro.
E o que resta da alma?
Afora a lembrança doce de outrora, e agora
amarga, descendo da boca às vísceras...
E não há mais uma fagulha de esperança
entre os vivos para se agarrar,
eis que resoluto, dilacerado pela
de-cisão, que não foi só inciso,
mas também contuso, e confuso...
E fica a lembrança dispersa da esperança;
e a distância pavimenta as veredas
da solidão, que te havia confessado...
Contudo, caminho vivo,
e morto, sorrindo o choro.
E se há algum conforto,
é no fingir o fingimento dos poetas,
tal qual profetizado pelo Poeta Fingidor...
Então finjo
a dor que deveras sinto...
e caminho vivo,
e morto, sorrindo o choro.


… do poeta...

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